domingo, 10 de fevereiro de 2008

Dia de chuva no mato


Chove
E a trovoada
é um batuque incessante,
uma estranha batucada.

Os raios são setas de fogo
que misteriosamente, em tom de guerra,
espíritos do mal lançam da Altura
para incendiar a Terra.

O vento
Ora violento, ora brando,
o vento é o cazumbi dos cazumbis
- o deus do mar, do rio e da floresta
- que vai cantando e dançando, em tragicómica festa,
o seu coro de mil vozes,
os seus bailados febris.

As nuvens negras são virgens tontas,
quais almas do outro mundo, errando como sonâmbulas
pelo céu negro e profundo...

E a chuva, constante e forte,
é o pranto (parece eterno) dos deuses negros que a Morte
sacrificou no Inferno.

Geraldo Bessa Victor
(Poeta angolano)

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