sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A hora da partida


A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Jacarandás da saudade


Tempo
de seus passos vindo
pelo tapete de roxas flores
dos jacarandás enfileirados na rua.

Hoje
é eterno o ontem
da silhueta de Maria
caminhando no asfalto da memória
em nebuloso pé ante pé do tempo. ...

Todo o tempo
colar de missangas ao pescoço
sempre o tempo todo
suruma minha suruma da saudade.

Suruma daquela saudade
das flores dos jacarandás
nos passos de Maria.

José Craveirinha

Sou angolana



Sou Bosquimane
Sou Vátua
Sou Banto (de todos as etnias)
Sou Africano Sou negro Sou mulato
Sou branco de 2ª.
Sou de uma única raça
A Raça Humana
Sou Angolana
Sinto Orgulho.. todos os dias


Não quero chocar ninguém
Com as minhas tradições
minhas etnias
minhas religões
Apenas quero dizer:
Que basta de divisões

A nossa mãe
Desventrada pela guerra
Resiste à nossa espera
À espera da nossa união
À espera que Angola
termine o estudo da democracia
E Seja uma Feliz e poderosa Nação

Massemba

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O ritmo do tantã


O ritmo do tantã não o tenho no sangue
nem na pele
nem na pele
tenho o ritmo do tantã no coração
no coração
no coração
o ritmo do tantã não tenho no sangue
nem na pele
nem na pele
tenho o ritmo do tantã sobretudo
mais no que pensa
mais no que pensa
Penso África,sinto África, digo África
Odeio em África
Amo em África
Estou em África
Eu também sou África
tenho o ritmo do tantã sobretudo
no que pensa
no que pensa
penso África, sinto África, digo África
E emudeço
dentro de ti, para ti África
dentro de ti, para ti África
África
África
África

António Jacinto
(poeta angolano)

O silêncio

Dois momentos


Tenho meus olhos fitos em frente
Onde mora o futuro,
E altos, erectos,
Bem por cima do Muro…

Sou como toda a gente:
Tenho momentos aflitos
E afectos.
E canto(produzo)e perduro,
Mesmo cheio de espanto…


António Cardoso

Voltar



..no teu olhar se perde o meu,
também no mar se perde o céu
quanto eu não daria para voltar atrás
quanto eu não daria
para poder voltar atrás

..Volta pró meu peito
daqui não saias mais..

Rodrigo Leão

_Voltar_

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

domingo, 24 de agosto de 2008

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Sem ti


E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,
sem álamos,
sem luas.

Só nas minhas mãos
ouço a música das tuas.

Eugénio de Andrade

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Eu


Quero escrever versos,
Versos de amor, de ironia,
Quero preencher todos os espaços,
Desta folha vazia.

Quero, ao escrever,
Ser completamente livre,
Lembrar-me do que quis ter,
Mas que nunca tive.

Quero com estas tantas palavras,
Que escrevo sem encontrar fim
Encher além destas folhas brancas,
Os espaços imensos que há em mim.

Lembrar, esquecer
Dormir, acordar,
Desejar morrer,
E depois lamentar.

Senti a presença da solidão,
Ri as lágrimas que não chorei,
Agindo com o coração,
Sempre errei.

Escrevo partes do que sou,
E dedico-tas a ti,
Mas só eu o sei,
Não sairá daqui.

Todas as lágrimas foram enxutas,
Neste pedaço de papel,
que agora é um pouco de mim,
As minhas palavras sentidas, doces ou brutas,
Assim como eu chegaram ao fim.


Inês Delgado
(Poetisa portuguesa)

Canção do crepúsculo


Poesia


Não faço mais nada!

Estou farto de rima

Fisgada

Em cima, em baixo,

Ao lado.


Estou fatigado:


Não há poema que valha

Um raio de sol,

Pão na toalha,

E uma mulher no lençol!...


António Cardoso

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Riscos...

Paraíso


Deixa ficar comigo a madrugada,

para que a luz do Sol me não constranja.

Numa taça de sombra estilhaçada,

deita sumo de lua e de laranja.



Arranja uma pianola, um disco, um posto,

onde eu ouça o estertor de uma gaivota...

Crepite, em derredor, o mar de Agosto...

E o outro cheiro, o teu, à minha volta!



Depois, podes partir. Só te aconselho

que acendas, para tudo ser perfeito,

à cabeceira a luz do teu joelho,

entre os lençóis o lume do teu peito...



Podes partir. De nada mais preciso

para a minha ilusão do Paraíso.



David Mourão-Ferreira

domingo, 17 de agosto de 2008

Grandezas




O mundo é grande e cabe

nesta janela sobre o mar.

O mar é grande e cabe

na cama e no colchão de amar.

O amor é grande e cabe

no breve espaço de beijar.




Carlos Drummond de Andrade

Neve nocturna


Sentindo na noite
O silêncio pesado das vítimas

De solidão

Regressar a casa, revolver um passado demasiado presente.
Inconstante, ainda assim.

As feridas que ardem,
Que jazem nos corpos em movimento

Num rodopio trôpego, soluçante.
Sempre só(brio).

Um expectante sobressalto desperta
Na acalmia passiva das mãos abertas
Esperando

Contando os diasAs noites

Em branco.

Como a neve cristalina que cobre
O negro do chão

Manchado de sangue.

E quando a estrada acabar?
Orlando Gilberto Castro
(poeta angolano)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

terça-feira, 12 de agosto de 2008

férias...



quando chego ainda faz muito calor.
vou a mergulhos para refrescar o corpo e acalmar o calor.
uma toalha estendida num lugar ligeiramente côncavo, espera por mim.

gargalhadas de crianças brincam fugindo das ondas pequeninas.
um par de namorados que se abraça no mar.

cenas familiares que se repetem a cada verão.
barcos a passar no horizonte.

(pares que falam em surdina, e se beijam ao de leve)

gente que abala,
mais um dia de férias que passa…

o areal vai ficando progressivamente deserto.
uma brisa suave e o sol que me acaricia.

(como é bom pensar em ti)

o barulho do mar como um sussurro, finalmente a imperar.
o pensamento viaja ao sabor das vagas.


(as saudades que tenho de ti)

eu gosto da praia ao entardecer.

(e de ti)