sábado, 31 de janeiro de 2009


«Era uma vez um jardim maravilhoso, cheio de grandes tílias, bétulas, carvalhos, magnólias e plátanos.
Havia nele roseirais, jardins de buxo e pomares. E ruas muito compridas, entre muros de camélias talhadas.

(...)
Ora num dos jardins de buxo havia um canteiro com gladíolos.

(...)
- Os jardins civilizados - diziam eles - são sempre jardins de buxo.
Perto dos gladíolos estava um caramanchão com glicínias e bancos de azulejos.
- Nos jardins antigos - diziam os gladíolos - há sempre azulejos.
Os buxos, quando ouviam isto, sorriam e murmuravam com voz de buxo, que é uma voz pequenina, húmida e verde.
- Nos jardins antigos havia buxo e azulejos mas não havia gladíolos.»

(...)

Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Eu não sei quem te perdeu



Quando veio,
Mostrou-me as mãos vazias,
As mãos como os meus dias,
Tão leves e banais.
E pediu-me
Que lhe levasse o medo,
Eu disse-lhe um segredo:
"Não partas nunca mais".

E dançou,
Rodou no chão molhado,
Num beijo apertado
De barco contra o cais.

E uma asa voa
A cada beijo teu,
Esta noite
Sou dono do céu,
E eu não sei quem te perdeu.

Abraçou-me
Como se abraça o tempo,
A vida num momento
Em gestos nunca iguais.
E parou,
Cantou contra o meu peito,
Num beijo imperfeito
Roubado nos umbrais.

E partiu,
Sem me dizer o nome,
Levando-me o perfume
De tantas noites mais.

E uma asa voa
A cada beijo teu,
Esta noite
Sou dono do céu,
E eu não sei quem te perdeu.

Coração ao rubro


Rifa-se um coração
Que nunca aprende

Que não endurece
E mantém sempre viva
A esperança de ser feliz
Sendo simples e natural.

Um coração insensato
Que comanda o racional,
Sendo louco o suficiente
Para se apaixonar.

Rifa-se um coração
Que insiste em cometer
Sempre os mesmos erros.


Clarice Lispector

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Deseja os tecidos dos céus


Fossem meus os tecidos bordados dos céus,
Ornamentados com luz dourada e prateada,
Os azuis e negros e pálidos tecidos
Da noite, da luz e da meia-luz,
Os estenderia sob os teus pés.
Mas eu, sendo pobre, tenho apenas os meus sonhos.
Eu estendi meus sonhos sob os teus pés
Caminha suavemente, pois caminhas sobre meus sonhos.

William Butler Yeats

Aconteceu há muitos anos


Corpos ou ondas:
iam, vinham, iam
dóceis, leves,
só alma e brancura.
Felizes, cantam;
serenos, dormem;
despertos, amam,
exaltam o silêncio.
Tudo era claro,
jovem, alado.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Na rua


Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço de tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Carlos Drummond de Andrade

Voltar inteira

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Rugas


São sinais que o amor deixou
São canais que a dor cavou
São leito de lágrimas
Sorrisos vincados
São pedaços de ti enraizados
São mais do que o tempo que já passou
São obras de arte
São o estandarte
São a fruta madura do nosso Agosto
São a tua lembrança
A que não parte
São tudo, tudo o que eu posso dar-te
As rugas do meu triste rosto

Autor desconhecido

Poema perdido


Porque eu trazia rios de frescura
E claros horizontes de pureza
Mas tudo se perdeu ante a secura
De combater em vão.

E as arestas finas e vivas do meu reino
São o claro brilhar da solidão.


Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, 25 de janeiro de 2009

Procura o mar


Procura o mar
Não busques para lá.
O que é, és tu.
Está em ti.
Em tudo.
A gota esteve na nuvem.
Na seiva.
No sangue.
Na terra.
E no rio que se abriu no mar.
E no mar que se coalhou em mundo.
Tu tiveste um destino assim .
Procura o mar.
Dá-te à sede das praias
Dá-te à boca azul do céu
Mas foge de novo à terra.
Mas não toques nas estrelas.
Volve de novo a ti.
Retoma-te.


Cecília Meireles

Sete luas


Esta noite sete luas,
sete luas cheias,
rolaram juntas nos céus.
Dançaram nuas
sem pudor nem véus.
Vieram as estrelas,
as fadas e os anjos
deram-se as mãos
e fizeram roda
à roda da lua
sete vezes branca.
Vem, meu amor,
escuta seu canto.


Eugénia Tabosa

sábado, 24 de janeiro de 2009

Nature boy


There was a boy
A very strange enchanted boy
They say he wandered very far, very far
Over land and sea
A little shy and sad of eye
But very wise was he.

And then one day
A magic day he passed my way
And while we spoke of many things
Fools and kings
This he said to me…

The greatest thing
You will ever learn
Is just to love
And be loved in return.

Oh Â… the greatest thing
You will ever learn
Is just to love

And be loved in return.

The greatest thing
You will ever learn

Is just to love
And be loved in return.

O meu olhar


Eu não tenho filosofia : tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

Alberto Caeiro

Com o tempo a sabedoria

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Cidade


Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o meu vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Reflexão

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A flor


Meu tão doce amor de mais ninguém,
Imaginado neste deserto
Destes dias, como único bem
Do caminhante que segue incerto

– Onde o meu distante oásis te tem
Tão escondida, se foi desperto
Que sempre andei nesta vida sem
Nunca o encontrar para mim aberto?!...

Meu tão doce amor de mais ninguém,
Construí-te na dura memória
Como flor mais rara que se tem,

Como a flor mais doce e mais madura,
Que jamais alguém um dia viu,
Mas só amargura em mim floriu!...

António Cardoso

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Elementos



A terra, o sol, o vento, o mar
São a minha biografia e são o meu rosto.


Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Marcas


Ensinamentos


"Quase todos nós percorremos um longo caminho.
Fomos de um mundo para outro, que era praticamente igual ao primeiro,
esquecendo logo de onde viéramos, não nos preocupando para onde íamos,
vivendo o momento presente.
Tem alguma idéia de por quantas vidas tivemos de passar
até chegarmos a ter a primeira intuição de que há na vida algo
mais do que comer, ou lutar, ou ter uma posição importante dentro do bando?
Mil vidas, Fernão, dez mil!
E depois mais cem vidas até começarmos a aprender que
há uma coisa chamada perfeição, e ainda outras cem
para nos convencermos de que o nosso objectivo na vida é encontrar
essa perfeição e levá-la ao extremo.
A mesma regra mantém-se para os que aqui estão agora, é claro:
escolheremos o nosso próximo mundo através daquilo que aprendermos neste.
Não aprender nada significa que o próximo mundo será igual a este,
com as mesmas limitações e pesos de chumbo a vencer. "
Richard Bach

domingo, 18 de janeiro de 2009

West side story



Filme de 1961, foi premiado com 10 Óscares e 3 Globos de ouro.
Impossível esquecer as interpretações , entre outras , de Rita Moreno no papel de Maria e de George Chakiris no papel de Bernardo.Dois excelentes bailarinos.
A banda sonora da autoria do maestro Leonard Bernstein, é inexquecível, intemporal e única.
Vi-o pela primeira vez em 1963.Fez-me ver o mundo com outros olhos.

Fim


Morro do que há no mundo:
do que vi, do que ouvi.
Morro do que vivi.
Morro comigo, apenas:
com lembranças amadas,
porém desesperadas.
Morro cheia de assombro
por não sentir em mim
nem princípio nem fim.
Morro: e a circunferência
fica, em redor, fechada.
Dentro sou tudo e nada.

Cecília Meireles

sábado, 17 de janeiro de 2009

Decisão

Aromas


Deitada me fico
acordada sonhando,
no escuro espio
o sono esperando...

Já estou embalada,
Piso terra dura;
vermelha , cheirosa
calor que perdura...

Aromas gritantes
de tropicais frutas;
sons familiares
de aves malucas...

Logo à minha frente
altiva , frondosa,
se ergue , gigante,
mangueira formosa.

Corro num repente
de braços abertos...
Lágrimas saltando
E sonhos despertos...

Choro amargamente
A ela abraçada...
Falo docemente
de dor carregada...

Ana Bela

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Soneto da hora final


Será assim amigo: um certo dia
Estando nós a contemplar o poente
Sentiremos no rosto, de repente
O beijo Leve de uma aragem fria

Tu me olharás silenciosamente
E eu te olharei também, com nostalgia
E partiremos, tontos de poesia
Para as portas da treva aberta em frente.

Ao transpôr as fronteiras do segredo
Eu calma te direi não tenhas medo
E tu tranquilo, me dirás:-Sê forte.

E como dois antigos namorados
Nocturnamente tristes e enlaçados
Nós entraremos nos jardins da morte

Vinicius de Moraes

Morre o dia lentamente


Morre o dia lentamente. . .

Para as bandas de ocidente
onde parece que o céu
se debruça sobre o mar,
o sol coberto de sangue
mergulha no oceano
como para se querer refugiar . . .

No alto
a lua redonda aparece receosa.

E na praia solitária
escutando o marulhar
eu quero fugir do dia.

E o dia morre
deixando-me só . . .

. . .olhando o mar . . .


M.A.S.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Quando se encontram pessoas especiais


Algumas vezes na vida você encontra alguém especial.
Alguém que muda sua vida apenas fazendo parte dela.
Alguém que faz você rir sem parar.
Alguém que faz você acreditar que existe algo bom no mundo.
Alguém que convence você que realmente há uma porta aberta.
Apenas esperando para ser aberta por você.
Este é um Sentimento para Sempre.

Siga sua estrela


Há um lugar especial na vida
que necessita do seu conhecimento
e um determinado serviço
que ninguém mais pode fazer.
Com o tempo você o descobrirá e,
Mesmo que lhe pareça inútil,
não tente mudá-lo nem por um momento,
mesmo que você possa.

Há um lugar especial na vida
onde você atingirá o que é seu,
um sonho que você deve seguir,
porque para trás não é seu caminho.

Existe um ponto de partida
por onde você deverá começar,
por menos importante que possa lhe parecer.

É uma herança de amor
para aqueles que virão depois de você.

Há um lugar especial na vida que só você reconhecerá.
Uma estrada tem o seu nome e espera por você.
Existem mãos que você deve segurar,
uma palavra que você deve dizer,
um sorriso que você deve dar
e lágrimas que só você poderá enxugar.

Há um lugar especial na vida
previsto para ser ocupado por você.
Um campo luminoso onde flores crescem fortes
apesar das tempestades.

Há um especial amanhã e o melhor está para vir.
É certo que seu destino é um livro que você não lê.

Mas pode crer:
nesta vida há um lugar especial feito só para você!

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Olhando ao espelho


Saudade


De quem é esta saudade
que meus silêncios invade,
que de tão longe me vem?


De quem é esta saudade,
de quem?


Aquelas mãos só carícias,
Aqueles olhos de apelo,
aqueles lábios-desejo...


E estes dedos engelhados,
e este olhar de vã procura,
e esta boca sem um beijo...


De quem é esta saudade
que sinto quando me vejo?

Gilka Machado

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Unforgettable



Unforgettable, that's what you are
Unforgettable though near or far
Like a song of love that clings to me
How the thought of you does things to me
Never before has someone been more

Unforgettable in every way
And forever more, that's how you'll stay
That's why, darling, it's incredible
That someone so unforgettable
Thinks that I am unforgettable too

Instrumental interlude...

Unforgettable in every way
And forever more, that's how you'll stay
That's why, darling, it's incredible
That someone so unforgettable
Thinks that I am unforgettable too

Para ti


Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que falhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só olhar
amando de uma só vida.

Mia Couto

Pensar a vida

domingo, 11 de janeiro de 2009

Terra molhada


Não vou negar a saudade
De tantos cheiros impregnada;
Mas daqueles que me lembro
Há um, deixa-me assim arrasada...

Terra molhada, cheirosa
Que não mais vou esquecer...
Dos quentes verões chuvosos
Não se cansa de beber...

Por momentos, por instantes,
Quem me dera tal sentir,
Dar de beber à minha alma
Sequiosa de partir...

Ana Bela

sábado, 10 de janeiro de 2009

Wonderful tonight


Uma das canções da minha vida.
Nunca me canso de ouvir

II-Noite


Lá fora, furioso, ruge o vento.
no meu quarto, com frio, encolhido,
ouço no escuro um débil gemido
terno, arfante sem ser um lamento.

Pela janela vejo o firmamento,
ouço a tua voz num eco tremido;
E um desejo louco e incontido
transforma-se em meu peito, em sofrimento.

Surge-me a tua imagem num anseio,
Chama-me a tua voz e, firme, eu creio
que nunca deixarei de a adorar.

Na noite, cai a chuva docemente.
No céu, nem uma estrela reluzente;
E eu, só, continuo a divagar.

M.A.S.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

In the morning light

Motivo


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno, a asa ritmada.
e um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Cecília Meireles

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Jardin d´Hiver



Je voudrais du soleil vert
Des dentelles et des théières
Des photos de bord de mer
Dans mon jardin d'hiver
Je voudrais de la lumière
Comme au Nouvelle Angleterre
Je veux changer d'atmosphère
Dans mon jardin d'hiver
Ma robe à fleurs sous la pluie de novembre
Tes mains qui courent, je n'en peux plus de t'attendre
Les années passent, qu'il est loin l'âge tendre
Nul ne peut nous entendre
Je voudrais du Fred Astère
Revoir un Latécoère
Je voudrais toujours te plaire
Dans mon jardin d'hiver
Je veux déjeuner par terre
Comme au long des golfes clairs
T'embrasser les yeux ouverts
Dans mon jardin d'hiver

Ma robe à fleurs sous la pluie de novembre
Tes mains qui courent, je n'en peux plus de t'attendre
Les années passent, qu'il est loin l'âge tendre
Nul ne peut nous entendre

Sonhei comigo


Sonhei comigo
esta noite
Vi-me ao comprido
Deitada
Tinha estrelas
nos cabelos
em meus olhos
madrugadas
Sonhei comigo
esta noite
como queria
ser sonhada
Senti o calor da mão
percorrendo uma guitarra
De longe vinha um gemido
uma voz desabalada
Havia um campo
de trigo
um sol forte
me abrasava.
E acordei
meio sonhando
procurando
me encontrar
Quando me vi
ao espelho
era teu
o meu olhar.

Eugénia Tabosa
(poetisa portuguesa)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Uma gota de água

Navio naufragado

Tela de John William Waterhouse

Vinha de um mundo
Sonoro, nítido e denso.
E agora o mar o guarda no seu fundo
Silencioso e suspenso.

É um esqueleto branco o capitão,
Branco como as areias,
Tem duas conchas na mão
Tem algas em vez de veias
E uma medusa em vez de coração.

Em seu redor as grutas de mil cores
Tomam formas incertas quase ausentes
E a cor das águas toma a cor das flores
E os animais são mudos, transparentes.

E os corpos espalhados nas areias
Tremem à passagem das sereias,
As sereias leves dos cabelos roxos
Que têm olhos vagos e ausentes
E verdes como os olhos de videntes.

Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Flores silvestres


Há pessoas que jamais podemos esquecer, pelo bem que nos fazem, pelo carinho que nos dedicam.
Estas singelas florinhas são para ti, pela ajuda sincera e dedicada, mais uma vez, em horas difíceis.
Obrigada

Ser mulher


Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada
para os gozos da vida, a liberdade e o amor,
tentar da glória a etérea e altívola escalada,
na eterna aspiração de um sonho superior...


Ser mulher, desejar outra alma pura e alada
para poder, com ela, o infinito transpor,
sentir a vida triste, insípida, isolada,
buscar um companheiro e encontrar um senhor...

Ser mulher, calcular todo o infinito curto
para a larga expansão do desejado surto,
no ascenso espiritual aos perfeitos ideais...

Ser mulher, e oh! atroz, tantálica tristeza!
ficar na vida qual uma águia inerte, presa
nos pesados grilhões dos preceitos sociais!

Gilka Machado
(poetisa brasileira)

Mar


Na melancolia de teus olhos
Eu sinto a noite se inclinar
E ouço as cantigas antigas
Do mar

Nos frios espaços de teus braços
Eu me perco em carícias de água
E durmo escutando em vão
O silêncio

E anseio em teu misterioso seio
Na atonia das ondas redondas
Náufrago entregue ao fluxo forte
Da morte

Vinicius de Moraes

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

The gentle rain



O diário da nossa paixão


“Os jovens activos e impacientes, têm sempre que quebrar o silêncio. É um desperdício, porque o silêncio é puro. O silêncio é segredo. Une as pessoas porque só os que se dão bem uns com os outros se podem sentar juntos sem falar. É este o grande paradoxo.”

“ Os poetas muitas vezes descrevem o amor como uma emoção que não podemos controlar, uma emoção que abafa a lógica e o senso comum.
Eu não planeei apaixonar-me por ti, e duvido que tenhas planeado apaixonares-te por mim.
Mas uma vez que nos encontrámos, ficou claro que nenhum de nós podia controlar o que nos estava a acontecer. Ficámos apaixonados, apesar das nossas diferenças, e assim que o ficámos, algo de raro e maravilhoso foi criado. Para mim, um amor como aquele acontece apenas uma vez, e é por isso que cada minuto que passámos juntos ficou gravado na minha memória.”

in ”O diário da nossa paixão” de Nicholas Sparks

domingo, 4 de janeiro de 2009

Ensinamentos

Mulheres da minha terra


São todas belas
Elas
As mulheres
Que meus quereres
Se confundem
E perdem

Vejo Rosa
Formosa
E me encanta
Que canta
Meu coração
De emoção

Vejo Margarida
Querida
Alta
E esbelta
E é ela
A minha estrela

Vejo Teresa
Beleza
Baixinha
E cheinha
E por ela suspiro
E passo noites em claro

Vejo Bela
Gazela
Ternura
E candura
E logo meu coração
É todo paixão

Vejo Maria
Feia
Mas bela
Ela
No interior
E é meu grande amor

São todas belas
Elas
E muitas,
Pretas, albinas, brancas, mulatas...
Mas todas bonitas
Todas catitas
E belas!


Décio Bettencourt Mateus
(poeta angolano)