quarta-feira, 10 de julho de 2013

segunda-feira, 13 de maio de 2013

segunda-feira, 11 de março de 2013

NÃO BASTA ABRIR A JANELA

Foto: ALBERTO CAEIRO (FERNANDO PESSOA), in POEMAS INCONJUNTOS / POEMAS DE ALBERTO CAEIRO (Ática, Lisboa, 1496; 10ª edição, 1993)

NÃO BASTA ABRIR A JANELA

Não basta abrir a janela 
Para ver os campos e o rio. 
Não é bastante não ser cego 
Para ver as árvores e as flores. 
É preciso também não ter filosofia nenhuma. 
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas. 
Há só cada um de nós, como uma cave. 
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora; 
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse, 
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela. 


*

Fotografia: Afternoon Beach, de Dana Admunds

*


(CC)

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
... Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

Alberto Caeiro

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

SAUDADE


Foto: ANTÓNIO GEDEÃO, in 366 POEMAS QUE FALAM DE AMOR, Antologia organizada por Vasco Graça Moura, (Quetzal, 2003)


OS AMANTES LIQUEFEITOS

Para quem não tem pena que o afague
é bom saber que o jovem par de amantes
marcou encontro num jardim de Copenhaga. 
 
Na manhã fria como o aço cromado
Uma névoa leitosa amassa o esqueleto das árvores
num hálito empastado. 
 
Esquálidos, adivinham-se os ramos na bruma dissolvente,
secos e descarnados como tíbias desenterradas
ao longo das hastes, os dentes polidos do gelo pendente
como presas de cães atentas e aceradas. 
 
Gélido um vento sopra e eriça a epiderme
das estátuas de bronze diluídas no espaço,
e a pele dos golfinhos de pedra que emergem da água inerme
de um lago morto como vidro baço. 
 
Ininterruptamente
cai a neve
naquela queda paulatina e leve
que tudo cobre, pesadamente. 
 
Chegaram os amantes.
Caminham silenciosos, de mãos dadas.
Sob as luvas grosseiras e bordadas 
 
Sentem-se os dedos mais que palpitantes.
Pararam e examinam-se. Os olhos um do outro se povoam,
batem as asas, desfazem-se em vapor,
as minúcias do rosto sobrevoam
prospectanto os filões mais íntimos do amor. 
 
Fecham os olhos. Apagam-se as luzes.
Vogam no oceano os náufragos solitários.
Juntam-se as bocas no fundo dos capuzes
Como dois pólos de sinais contrários. 
 
Uma estrela cadente os ares corta
e enquanto o longo beijo continua
semeia luz em pó na natureza morta. 
 
Rompem as flores do chão, e as árvores esquálidas
projectam sobre a relva a sombra tutelar.
Anima-se o sangue nas veias de bronze das estátuas pálidas,
dissipa-se a névoa, alegra-se o ar.
Um búfalo de fogo no horizonte se esboça.
Traz música nos olhos e as goelas hiantes.
Funde-se a neve empedernida e grossa.
Funde-se o gelo. Fundem-se os amantes.

*

Fotografia e arte digital: Nude 01, de Christian Simonian

*

(CC)
 
Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se... absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira, é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

CLARICE LISPECTOR

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Pensamento

A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Outra noite





Outra noite


Outro sono

Como se eu sonhasse o sonho

De outro dono

Outro fumo, uma outra cinza

Outra manhã



Mordo a fruta

Outro é o sumo

Ando pela mesma casa

Com outro prumo

Outra sombra, outono

Chuva temporã



Será que já não vi

De modo impessoal

E em tempo diferente

Um dia estranhamente igual

Dias iguais

- Avareza de Deus

Passando indiferentes

Por estranhos olhos meus



Outros olhos

No teu rosto

Vou falar teu nome

E já teu nome é outro

Outra bruma

Sombra de outro sonho, alguém

Na manhã de junho

Outono, outubro, além

domingo, 14 de novembro de 2010

Angola



Não nasci do teu ventre

mas amei-te em cada Primavera

com a exuberância de semente...


...Não nasci do teu ventre

mas foi em ti que sepultei

as minhas saudades

e sofri as tempestades

de flor transplantada

prematuramente...


Não nasci do teu ventre

mas bebi o teu sortilégio

em noites de poesia

transparente...


Não nasci do teu ventre

mas foi à tua sombra

que fecundei rebentos novos

e alonguei os braços

para um destino transcendente...


Não serás terra do meu berço,

Mas és terra do meu ventre!



Amélia Veiga

sábado, 23 de outubro de 2010

O girassol



O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...

Fernando Pessoa

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O medo leva ao perigo



O medo sempre me guiou para o que eu quero. E porque eu quero, temo.
Muitas vezes foi o medo que me tomou pela mão e me levou.
O medo me leva ao perigo.
E tudo o que eu amo é arriscado.

Clarisse Lispector

terça-feira, 12 de outubro de 2010

era uma mulher com o seu amante

 
 
Às vezes sentava-se na rede, balançando-me com o livro aberto no colo,
sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.  
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante.

Clarice Lispector

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Apresentação da porta!

Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.

Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado

Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de sopetão
Pra passar o capitão.

Só não abro pra essa gente
Que diz (a mim bem me importa . . .)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.

Eu sou muito inteligente!
Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Fecho tudo nesse mundo
Só vivo aberta no céu!


Vinícius de Moraes

sábado, 25 de setembro de 2010

Perfeição



O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fracção de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exactidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exactidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

Clarice Lispector

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Já chegou!!!

Gosto das cores quentes do Outono e da tranquilidade que transmitem.
É a estação do romantismo.

terça-feira, 21 de setembro de 2010