sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Há palavras que nos beijam


Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill
Poeta português
(1924-1986)

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Crónica para ser lida com acompanhamento de quissanje


“A coisa mais bonita que vi até hoje não foi um quadro, nem um momento, nem uma cidade, nem uma mulher, nem a pastorinha de biscuit da minha avó Eva quando era pequeno, nem o mar, nem o terceiro minuto da aurora de que os poetas falam: a coisa mais bonita que vi até hoje eram vinte mil hectares de girassol na Baixa do Cassanje , em Angola. A gente saía antes da manhã e nisto, com a chegada da luz, os girassóis erguiam a cabeça, à uma, na direcção do nascente, a terra inteira cheia de grandes pestanas amarelas dos dois lados da picada e uma ocasião
lembro-me
um bando de mandris numa encosta, quietos, observando-nos. Depois cansavam-se de nós e desapareciam na sombra dos caules. A coisa mais bonita que vi até hoje foi Angola, e apesar da miséria e do horror da guerra continuo a gostar dela com um amor que não se extingue. Gosto do cheiro e gosto das pessoas.”


António Lobo Antunes
In”Segundo livro de crónicas”

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Quissange-Saudade negra


Não sei, por estas noites tropicais,
o que me encanta...
Se é o luar que canta
ou a floresta aos ais.

Não sei, não sei, aqui neste sertão
de musica dolorosa
qual é a voz que chora
e chega ao coração...

Qual o som que aflora
dos lábios da noite misteriosa!

Sei apenas, e isso é que importa,
que a tua voz, dolente e quase morta,
já mal a escuto, por andar ausente,
já mal escuto a tua voz dolente...

Dolente, a tua voz "luena",
lá do distante Moxico,
que disponho e crucifico
nesta amargura morena...

Que é o destino selvagem
duma canção em que tange,
por entre a floresta virgem
o meu saudoso "Quissange".

Quissange, fatalidade
deste meu triste destino...
Quissange, negra saudade
do teu olhar diamantino.

Quissange, lira gentia,
cantando o sol e o luar
e chorando a nostalgia
do sertão, por sobre o mar.

Indo mares fora, mares bravos,
em noite primaveril
acompanhando os escravos
que morreram no Brasil.

Não sei, não sei,
neste verão infinito,
a razão de tanto grito...

-Se és tu, oh morte, morrei!

Mas deixa a vida que tange,
exaltando as amarguras,
e as mais tristes desventuras
do meu amado Quissange!

Tomaz Vieira da Cruz

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

domingo, 24 de fevereiro de 2008

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Sem título


Alda Lara


Fica longe o sol que vi,
aquecer meu corpo outrora…
Como é breve o sol daqui !
E como é longa esta hora…

Donde estou vejo partir
quem parte certo e feliz.
Só eu fico. E sonho ir,
rumo ao sol do meu país…

In “Quadras da minha solidão

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Poesia


Primavera


Foto:iguana Africana
Sabes?...
Sabes que lá fora
anda de novo a primavera,
a brincar, nas tranças
dos cabelos das crianças?...

Sabes que lá fora,
ela anda de novo (a louca!...)
a gargalhar promessas e alegrias
na boca
dos camponeses?...
Sabes?...

……………………………………

Não! Nem tu,
nem eu sabemos…

A primavera só regressa,
para aqueles que algum dia
abandonou…

E não para nós Amor…
não foi para nós…
que a primavera voltou…

Alda Lara

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A minha escolha

Se eu fosse...
Se eu fosse uma hora do dia, seria ...o entardecer
Se eu fosse um astro, seria...a lua
Se eu fosse uma direcção, seria...o sul
Se eu fosse um móvel, seria ...uma estante cheia de livros
Se eu fosse um liquido, seria...água
Se eu fosse um pecado, seria ...gula
Se eu fosse uma pedra, seria …um seixo rolado no mar
Se eu fosse uma árvore, seria ...um coqueiro
Se eu fosse uma fruta, seria ...uma pitanga
Se eu fosse uma flor, seria ...uma rosa de porcelana
Se eu fosse um clima, seria …tropical
Se eu fosse um instrumento musical, seria ...um quissange
Se eu fosse um elemento, seria …água
Se eu fosse uma cor, seria… verde
Se eu fosse um animal, seria ...uma ave marinha
Se eu fosse um som, seria ...um assobio
Se eu fosse música, seria ...night and day
Se eu fosse estilo musical, seria...jazz
Se eu fosse um sentimento, seria ... generosidade
Se eu fosse um livro, seria…Equador
Se eu fosse uma comida, seria…qq prato de peixe
Se eu fosse um lugar, seria ...qq um em Luanda
Se eu fosse um gosto, seria ...salgado
Se eu fosse um cheiro, seria… maresia
Se eu fosse uma palavra, seria…ajuda
Se eu fosse um verbo, seria ...amar
Se eu fosse um objecto, seria ...um papagaio de papel
Se eu fosse peça de roupa, seria ...um fato de banho
Se eu fosse parte do corpo, seria ...os olhos
Se eu fosse expressão facial, seria ...sorriso
Se eu fosse personagem de desenho animado, seria ...a pantera cor-de-rosa
Se eu fosse filme, seria ...África minha
Se eu fosse forma, seria ...um triângulo
Se eu fosse número, seria ...8
Se eu fosse estação, seria … outono
Se eu fosse uma frase, seria ...“o melhor do mundo são as crianças"

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Fever

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Night and day

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Sem título


Manchar a brancura imaculada
Deste pedaço de papel
É fazer poesia

Mesmo que não escreva
amor
ou frases ternas
com linhas suaves
Tenho a certeza:

Poesia quase sem poesia
Também é poesia.

A minha poesia
É este papel
A caneta
E uma mulher.

A minha poesia és tu.

M.A.S.
(13/11/68_R.C.Q.Sul)

Eu não existo sem você


Eu sei e você sabe,já que a vida quis assim.
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos me encaminham pra você


Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver


Não há você sem mim
E eu não existo sem você


Vinicius de Moraes

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Elba Ramalho


"faz tempo que eu não te vejo
quero matar meu desejo
te mando um monte de beijo
Ai que saudade sem fim"

You´ve got a friend

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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Sem nome...sem lei


Ontem...
Abandonei o claustro
Desamarrei o olhar
Sacudi o lodo da fatalidade
Tomei nas mãos o sorriso
E penetrei em todas as vielas.

Deambulei por ruelas vadias
Rasguei códigos desgastados.
Rompi os véus do formalismo
Desnudei a alma
E tornei-me forasteira de sonhos.

Hoje,
Procurei o cais do silêncio
Tomei o barco da aventura
E converti-me em passageira furtiva
Sem nome e sem lei…

Fátima Morão

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

14 de Fevereiro

Foto:Iguana africana

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Sinto falta


Amor..




O maior mistério dos humanos,

É tentar tirar da cabeça,

o que não sai do coração...

Saudade


Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas a amada já...
Saudade é amar um passado
que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe
o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudade,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.


(Pablo Neruda)

Katie Melua

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

I can´t stop loving you

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Anda ver a minha terra


Anda ver a minha terra meu amor
anda ver
anda ver que hás-de gostar
quando vires esta terra pequenina
com ares de menina
e as acácias em flor
com certeza meu bem vais gostar
tem tudo, pregões e cantigas
tem choros e brigas e o luar
batucadas nas noites perdidas
e a beijá-la com fúria e carinho
tem o mar
igualzinho a nós dois, meu senhor
tal e qual o amor

Cochat Osório

Mulata é a noite


Como eu
a noite nasceu mulata
na escuridão da cubata
é pecado do subúrbio
Mulata
é distúrbio no musseque
e a lua é pé de moleque
que adoça a provocação

A noite
é como pano de chita
que foi esteira de rebita
deixou missanga no chão

Como eu
a noite é bronze maciço
liga de prata e feitiço
gosto de açúcar mascavo
A noite
é um travo de maboque
e a mulata é um retoque
na polpa da natureza
Mulata
é estrela de bairro pobre
é barro que imita o cobre
torneado de surpresa

Adelino Tavares da Silva

She

She

May be the face I can't forget.

A trace of pleasure or regret

May be my treasure or the price I have to pay.

She may be the song that summer sings.

May be the chill that autumn brings.

May be a hundred different things

Within the measure of a day.

She

May be the beauty or the beast.

May be the famine or the feast.

May turn each day into a heaven or a hell.

She may be the mirror of my dreams.

A smile reflected in a stream

She may not be what she may seem

Inside her shell

She

who always seems so happy in a crowd.

Whose eyes can be so private and so proud

No one's allowed to see them when they cry.

She may be the love that cannot hope to last

May come to me from shadows of the past.

That I'll remember till the day I die

She

May be the reason I survive

The why and wherefore I'm alive

The one I'll care for through the rough and ready years

Me I'll take her laughter and her tears

And make them all my souvenirs

For where she goes I've got to be

The meaning of my life is

She, she, she

Charles Aznavour

Primeiro amor


O primeiro amor é o primeiro a entrar no coração
e o último a sair

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Carvão

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Pensamento

Foto:Iguana Africana

Dia de chuva no mato


Chove
E a trovoada
é um batuque incessante,
uma estranha batucada.

Os raios são setas de fogo
que misteriosamente, em tom de guerra,
espíritos do mal lançam da Altura
para incendiar a Terra.

O vento
Ora violento, ora brando,
o vento é o cazumbi dos cazumbis
- o deus do mar, do rio e da floresta
- que vai cantando e dançando, em tragicómica festa,
o seu coro de mil vozes,
os seus bailados febris.

As nuvens negras são virgens tontas,
quais almas do outro mundo, errando como sonâmbulas
pelo céu negro e profundo...

E a chuva, constante e forte,
é o pranto (parece eterno) dos deuses negros que a Morte
sacrificou no Inferno.

Geraldo Bessa Victor
(Poeta angolano)

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Romance


Stela era a minha pequenina namorada
nos tempos da minha infância descuidada!
Para colher o nascer do sol que tinha na boca
eu corria as barrocas e os areais vermelhos do meu bairro
e lutava assanhado com outros miúdos brancos e pretos.
De noite, quando havia muitas estrelas
e o céu era um buraco muito escuro
eu deitava-me na areia vermelha e quente do meu bairro
e no seu colo de menina
ficava calado a sentir o tempo passar.

O miúdo Artur cobiçava-ma
e que dor grande me doía cá dentro
se os via juntos a falar.
Uma vez, numa noite, de mãos dadas,
sentindo o vento molhado do tempo das chuvas,
eu disse-lhe apontando para o alto:
aquela é a minha estrela, qual é a tua?
E todas as noites
ficávamos deitados naquela minha rua antiga do Musseque Braga
a espiar as estrelas que brincavam no céu.

Stela era a minha pequena namorada
nos tempos da minha infância descuidada!
Por ela eu lutava com sardões de todos os tamanhos,
subia cajueiros impossíveis de subir
e era sempre o primeiro nas corridas.
Ela dava-me os santos que escondia de todos
como se fora o tesouro da ilha dos piratas.
E eu ficava muito sério como quando me batiam.
Um dia a minha pequenina namorada deixou o meu bairro.
Nesse dia não corri, não lutei,
não subi aos cajueiros do Musseque Braga
e os outros miúdos mais novos disseram: está doente.
E à noite, sozinho, procurei as duas estrelas
e chorei como se tivesse apanhado
a maior tareia da minha vida!
Stela era a minha pequenina namorada
nos tempos da minha infância descuidada!

António Cardoso

O que é o mar


O QUE É O MAR?


Tu perguntas, e eu não sei

eu também não sei o que é o mar


Mar


De todos os cantos do mundo

Amo com um amor mais forte e mais profundo

Aquela praia extasiada e nua

Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.


As ondas


As ondas quebravam uma a uma

Eu estava só com a areia e com a espuma

Do mar que cantava só para mim.


Sophia Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Flor-Maria João

Africano


Trago na alma, a sombra dos coqueiros
Nos olhos,trago a cinza das queimadas
Na boca, o improviso das rajadas
Nas mãos. o cazumbi dos feiticeiros.

Nos dedos,a expressão dos imbondeiros
Despidos como as almas maceradas...
Cinzentos como as nuvens carregadas...
Paradas como espectros traiçoeiros.

Trago aos ombros,o peso das jangadas
E das manhãs de cacimbo ainda ensonadas
E marcas de azagaias e torturas...

Trago no peito, uma fogueira ardente
Trago na alma, a alma desta gente...
Trago em meu coração, chamas escuras!

De Teresa Nolasco para Neves de Sousa
(1958)

Perfeição

Os pés, as calças,as mãos, os braços, o bronzeado, a camisa, o rosto, o cabelo, e principalmente o olhar...Tudo é perfeito

Unforgettable-Nat King Cole e Nathalie Cole

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Unforgettable, that's what you are

Unforgettable though near or far

Like a song of love that clings to me

How the thought of you does things to me

Never before has someone been more

Unforgettable in every way

And forever more, that's how you'll stay

That's why, darling, it's incredible

That someone so unforgettable

Thinks that I am unforgettable too

Unforgettable in every way

And forever more, that's how you'll stay

That's why, darling, it's incredible

That someone so unforgettable

Thinks that I am unforgettable too

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Feeling good

Birds flying high you know how I feel

Sun in the sky you know how I feel

Reeds driftin’ on by you know how I feel

(refrain)It's a new dawn

It's a new day

It's a new life

For me

And I'm feeling good

Fish in the sea you know how I feel

River running free you know how I feel

Blossom on the tree you know how I feel

Dragonfly out in the sun you know what I mean, don't you know

Butterflies all havin’ fun you know what I mean

Sleep in peace when day is done

That’s what I mean

And this old world is a new world

And a bold world

For me

Stars when you shine you know how I feel

Scent of the pine you know how I feel

Oh freedom is mine

And I know how I feel

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Visão


Separa-nos a solidão

de um mundo

que não conheço.



Aproxima-nos

algo mais

do que o nosso ser


M.A.S.
Lisboa, 1968

Solidão


terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

The look of love-Diana Krall

As flores do jacarandá

O jacarandá florido
Brando cantar trazia
Branda a viola da noite
Branda a flauta do dia

O Jacarandá florido
Brando cantar trazia
O vinho doce da noite
A água clara do dia

Quem o olhava bebia
Quem o olhava escutava
O jacarandá florido
Que o silêncio cantava


Matilde Rosa Araújo

Erros




Jardim


Houve um tempo em que minha janela se abria

sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.

Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.

Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,

e o jardim parecia morto.

Mas todas as manhãs, vinha um pobre com um balde,

e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.

Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.

E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros,

e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.

Outras vezes encontro nuvens espessas.

Avisto crianças que vão para a escola.

Pardais que pulam pelo muro.

Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.

Borboletas brancas, duas a duas, como reflectidas no espelho do ar.

Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.

Às vezes, um galo canta.

Às vezes, um avião passa.

Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.

E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,

que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,

outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,

finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Momentos


Tenho saudades de ti, de acordar de madrugada com as vossas conversas, do teu assobio quando ias fazer a barba.
Sei que me estás a ver daí, onde estás em paz, sempre a olhar por todos nós.
A idade não perdoa, sinto-me cansada. De tudo. Todos os dias carrego o mundo nos ombros, mas tu estás sempre "aqui" para me dares força.
Hoje pensei muito em ti, por isso te quis deixar este recadinho.
Fica bem, fica em paz e até um dia destes, meu pai querido.
Tua menina

Amar


Mãe África


Nesta noite morna de luar africano
Salpicando de sombras as estradas
Eu estendo os meus braços sedentos
Para a nossa mãe África, gigante
E ergo para ti meu canto sem palavras
Suplicando bênção da terra
Para as vias dos teus caminhos
Para a rota do destino imenso
Traçado na inteireza de todo o teu ser
Para ti, a projecção das nossas estradas
Varridas da impureza dos dejectos inúteis
Para ti, o canto de glória da nossa
Mãe África dignificada.

Alda do Espírito Santo
(Poetisa S.Tomense)

sábado, 2 de fevereiro de 2008

A manga



Fruta do paraíso
companheira dos deuses
as mãos
tiram-lhe a pele
dúctil
como, se de mantos
se tratasse
surge a carne chegadinha
fio a fio
ao coração
leve
morno
mastigável
o cheiro permanece
para que a encontrem
os meninos
pelo faro

Ana Paula Ribeiro Tavares

Ausência


Enviada por uma amiga.Obrigada

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Estrelas Mortas


A menina cresceu...
Nunca mais usou laços no cabelo,
nem chapéus com fitas largas
a esvoaçar ao vento...
Nunca mais pôs bibes de riscado aos quadradinhos...
...E as borboletas,
perderam-se, esquecidas nos caminhos...

A menina cresceu...
O quarto de brinquedos fechou-se para sempre,
e dos castigos também se fechou...

Na boca de menina,
o tempo cavou um sorriso,
sempre igual...e sempre triste...

E as suas mãos , agora longas,
de unhas sangrentas,
nunca mais quiseram agarrar a lua,
nas noites belas...
...nunca mais..
De resto as noites fizeram-se mais escuras,
e menos belas...
Noites de bruma,
onde as estrelas se apagaram todas,
uma por uma...

E tudo, porque a menina cresceu...

Alda Lara
(1949)