sábado, 26 de julho de 2008

O insecto

Velasquez

Das tuas ancas aos teus pés

quero fazer uma longa viagem.


Sou mais pequeno que um insecto.


Percorro estas colinas,

são da cor da aveia,

têm trilhos estreitos

que só eu conheço,

centímetros queimados,

pálidas perspectivas.


Há aqui um monte.

Nunca dele sairei.

Oh que musgo gigante!

E uma cratera, uma rosa

de fogo humedecido!


Pelas tuas pernas desço

tecendo uma espiral

ou adormecendo na viagem

e alcanço os teus joelhos

duma dureza redonda

como os ásperos cumes

dum claro continente.


Para teus pés resvalo

para as oito aberturas

dos teus dedos agudos,

lentos, peninsulares,

e deles para o vazio

do lençol branco

caio, procurando cego

e faminto teu contorno

de vaso escaldante!




Pablo Neruda

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