«Acordo sem o contorno do teu rosto na minha almofada,
sem o teu peito liso e claro como um dia de vento,
e começo a erguer a madrugada
apenas com as duas mãos que me deixaste,
hesitante nos gestos,
porque os meus olhos partiram nos teus.
E é assim que a noite chega,
e dentro dela te procuro,
encostado ao teu nome,
pelas ruas álgidas onde tu não passas,
a solidão aberta nos dedos como um cravo.
(...)
Que posso eu fazer
senão escutar
o coração inseguro dos pássaros,
encostar a face ao rosto lunar dos bêbados
e perguntar o que aconteceu.»
Eugénio de Andrade
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