No espelho não é eu, sou mim. Não conheço mim, mas sei quem é eu, sei sim. Eu é cara-metade, mim sou inteira. Quando mim nasceu, eu chorou, chorou. Eu e mim se dividem numa só certeza. Alguém dentro de mim é mais eu do que eu mesma. Eu amo mim. Mim ama eu.By Rita Lee
quinta-feira, 31 de julho de 2008
Ternura
Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
David Mourão-Ferreira
Confidência
Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com a suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça
Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno
Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci
Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos
No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome.
Mia Couto
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Procura o mar
Não busques para lá.
O que é, és tu.
Está em ti.
Em tudo.
A gota esteve na nuvem.
Na seiva.
No sangue.
Na terra.
E no rio que se abriu no mar.
E no mar que se coalhou em mundo.
Tu tiveste um destino assim .
Procura o mar.
Dá-te à sede das praias
Dá-te à boca azul do céu
Mas foge de novo à terra.
Mas não toques nas estrelas.
Volve de novo a ti.
Retoma-te.
Cecília Meireles
Um dia...
Um dia,
hás-de lembrar-te
destas horas
entornando sangue
na velha mesa do café.
Um dia,
hás-de lembrar-te
destas horas,
contornando os pensamentos
doridos,
como arame farpado
da inteligência.
E desta luta sempre inglória,
e destes sonhos,
-loucos sonhos!-
tão puros como tu,
tão frágeis como eu.
Um dia,
hás-de lembrar-te…
E então,
talvez eu possa explicar-te
o Céu…
Alda Lara
Certificado de Amizade
Eu o pegaria só para você
E compartilharia com você a sua beleza
Nos dias em que você se sentisse triste
Se eu pudesse construir uma montanha
Você poderia chamá-la de sua
Um lugar para encontrar serenidade
Um lugar para estar sozinho
Se eu pudesse pegar seus problemas
Eu os jogaria no mar
Mas todas estas coisas em que eu estou pensando
São impossíveis para mim
Eu não posso construir uma montanha
Ou pegar um belo arco-íris
Mas deixe-me ser o que eu sei de melhor
Um amigo que está sempre por perto
terça-feira, 29 de julho de 2008
Silêncios
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Inesperadamente
Luís Amorim de Sousa
Enquanto houver amizade
Albert Einstein
domingo, 27 de julho de 2008
Lembrança
Tinham o sabor da manga
E o efeito do quimbombo;
Teus olhos o poder do visgo
E a cor da pitanga
Assim te descobri um dia no subúrbio
Mulata
Depois,
Quando os navios chegaram atrás dos navios
E o subúrbio se tornou cidade
Eu te voltei a ver.
Não vi nem fruta-pinha no teu corpo.
Só sumo de tabaibo nos teus olhos
Só espinhos de tabaibo nos teus lábios
Mulata
Me afastei entristecido
Te guardando na lembrança doutro tempo,
Na lembrança que embala
E mata.
Eduardo Brazão-Filho
sábado, 26 de julho de 2008
O insecto
Das tuas ancas aos teus pés
quero fazer uma longa viagem.
Sou mais pequeno que um insecto.
Percorro estas colinas,
são da cor da aveia,
têm trilhos estreitos
que só eu conheço,
centímetros queimados,
pálidas perspectivas.
Há aqui um monte.
Nunca dele sairei.
Oh que musgo gigante!
E uma cratera, uma rosa
de fogo humedecido!
Pelas tuas pernas desço
tecendo uma espiral
ou adormecendo na viagem
e alcanço os teus joelhos
duma dureza redonda
como os ásperos cumes
dum claro continente.
Para teus pés resvalo
para as oito aberturas
dos teus dedos agudos,
lentos, peninsulares,
e deles para o vazio
do lençol branco
caio, procurando cego
e faminto teu contorno
de vaso escaldante!
Pablo Neruda
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Tempo certo
De uma coisa podemos ter certeza: de nada adianta querer apressar as coisas; tudo vem ao seu tempo, dentro do prazo que lhe foi previsto. Mas a natureza humana não é muito paciente. Temos pressa em tudo e aí acontecem os atropelos do destino, aquela situação que você mesmo provoca, por pura ansiedade de não aguardar o tempo certo. Mas alguém poderia dizer: Qual é esse tempo certo? Bom, basta observar os sinais. Quando alguma coisa está para acontecer ou chegar até sua vida, pequenas manifestações todos os dias enviarão sinais indicando o caminho certo. Pode ser a palavra de um amigo, um texto lido, uma observação qualquer. Mas, com certeza, o sincronismo se encarregará de colocar você no lugar certo, na hora certa, no momento certo, diante da situação ou da pessoa certa. Basta você acreditar que nada acontece por acaso. Talvez seja por isso que você esteja agora lendo estas linhas. Tente observar melhor o que está a sua volta. Com certeza alguns desses sinais já estão por perto e você nem os notou ainda. Lembre-se, que o universo sempre conspira a seu favor quando você possui um objectivo claro e uma disponibilidade.
Paulo Coelho
Hora
Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta - por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.
Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.
E dormem mil gestos nos meus dedos.
Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.
Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.
E de novo caminho para o mar.
Sophia de Mello Breyner Andresen
quarta-feira, 23 de julho de 2008
Que é voar?
domingo, 13 de julho de 2008
Direitos do assertivo
- Eu tenho o direito de manter os meus próprios valores, desde que eles respeitem os direitos dos outros
- Eu tenho o direito de expressar os meus sentimentos e opiniões.
- Eu tenho o direito de expressar as minhas necessidades e de pedir o que quero
- Eu tenho o direito de dizer não sem me sentir culpado por isso
- Eu tenho o direito de pedir ajuda e de escolher se quero prestar ajuda a alguém
- Eu tenho o direito de me sentir bem comigo próprio sem sentir necessidade de me justificar perante os outros
- Eu tenho o direito de mudar de opinião
- Eu tenho o direito de pensar antes de agir ou de tomar uma decisão
- Eu tenho o direito de dizer «eu não estou a perceber» e pedir que me esclareçam ou ajudem
- Eu tenho o direito de cometer erros sem me sentir culpado
- Eu tenho o direito de fixar os meus próprios objectivos de vida e lutar para que as minhas expectativas sejam realizadas, desde que respeite os direitos dos outros
M.D. Galassi e J.P. Galassi,
(traduzido in http://casist.ist.utl.pt/nap/020305.pdf)
sábado, 12 de julho de 2008
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Acreditar... IV
Colocar sua energia positiva em tudo que realizar!
Fazer parcerias com os amigos.
Crescer juntos.
Emanar vibração de amor...
Ouvir o coração...
Acreditar na vida!
Instante
Poeta
Longe, no horizonte a flutuar,
Um pouco curvado, apressado a nadar
Talvez para fugir do tempo enfadonho.
Esquecendo um dia um pouco risonho,
Entrando com os outros a gracejar…
Mas o coração desejando amar
Muda-lhe o aspecto para tristonho.
Sonhando a amante tão ansiada,
Desejando tudo não querendo nada,
Mergulha do sonho na imensa dor.
Sempre sonhando um sonho sem fim
Acordo por vezes dizendo pra mim:
-Pobre poeta, só sonhas amor… …
Habitante celestial
Tu porém, terás estrelas como ninguém ...
Quero dizer : quando olhares o céu de noite, (porque habitarei uma delas e estarei rindo), então será como se todas as estrelas se rissem!E tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre minha amiga!(basta olhar para o céu e estarei lá). Terás vontade de rir comigo ... E abrirás, às vezes, a janela à toa, por gosto ... e teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu.Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!
(Exupéri, em "O Pequeno Príncipe)
quinta-feira, 10 de julho de 2008
Dia 23
Caetano Veloso
terça-feira, 8 de julho de 2008
O cisne e o leão
Vivia num Lago Encantado onde tudo era perfeito: água cristalina, margens de folhagem verde e frondosa, peixes amigos, coloridos e o bicho homem longe do seu horizonte.
O Cisne era feliz, ou pelo menos pensava que sim, porque todos os dias eram tranquilos e seguros, ele sabia sempre por onde nadar, conhecia bem a temperatura das águas, a sua humidade, as sensações que lhe provocavam o caminho.
Era admirado por todos os habitantes daquele espaço, a todos tocava com a sua pureza singular, a sua harmonia, a sua singeleza.
Um dia, chegou ao Lago um Leão, imponente e altivo, sequioso de matar a sua sede. Bebe, bebe, e sentiu-se observado.
- Quem és tu, tão puro e doce, branco e sereno? - Indagou o Leão curioso, afinal, era o Rei da Selva e não se apercebera da beleza daquele ser que vivia ali tão perto.
- Sou o Cisne! E tu quem és? – Perguntou candidamente.
- Como quem sou eu ?!?! – Rugiu o Leão indignado – Sou o Rei dos animais, a figura mais importante do reino, e tu…és meu vassalo.
O Cisne ficou deslumbrado com a altivez do Leão, nunca outro animal do Lago lhe tinha falado assim, nunca vira outros animais que não fossem os daquelas águas cálidas e não imaginava que existisse vida para além do seu horizonte.
O Leão foi-se embora incomodado, zangado por não ter sido reconhecido pelo seu súbdito, mas algo naquele Cisne o cativou.
Ele era puro e branco, sereno e macio, perfumado e elegante no deslizar dos seus movimentos.
O Leão só estava habituado a conviver com os seus semelhantes, leões, como ele, de jubas poderosas; de garras afiadas, sempre à espera de atacar as presas; de dentes afiados e acutilantes, prontinhos para devorar os incautos que se atravessavam nos seus caminhos, de pêlo sujo pelo desgaste da vida e marcado pelo sangue da morte.
Raramente se misturava com outras raças, que considerava inferiores, mas aquele Cisne tinha algo de belo.
No dia seguinte, voltou ao Lago dos Encantos sob o pretexto de saciar novamente a sua sede, mas esta não era de água, era de descobrir o mistério de tamanha luminosidade.
- Fala-me de ti – ordenou altivo.
-Já te disse, sou um Cisne. Faço parte de um conjunto de aves palmípedes. Tenho uma vida preciosíssima: todos os dias de manhã, providencio o alimento para os meus irmãos mais pequenos, preparo tudo à minha volta para que se mantenha este um lugar idílico para aqueles que aqui habitam, purifico-me a cada momento na magia das águas e sou quase feliz.
- «Quase feliz»?! O que te falta meu amigo? – indagou curioso o Leão.
- Não sei, mas às vezes oiço uma voz que me diz que há mais vida para além daquela que conheço no Lago; que há outros animais por conhecer; que há uma Terra inteira por explorar. Como é a tua terra Leão?
- É um lugar fantástico! - assegurou ele tentando impressionar o Cisne – é poderosa, tem milhares de outros animais (nenhum tão importante como eu), sim porque eu sou o Rei. Tem também espécies vegetais, tem homens e crianças, tem presas e predadores, mas ninguém na Terra é tão importante como eu, porque sou o Rei dos animais, já te tinha dito?
- Sim – sorriu o Cisne com toda aquela reiteração – já me tinhas dito.
Quanto mais o Leão falava, mais o Cisne se encantava com aquele ser tão poderoso, ele, que era uma ave tão simples, que nunca tinha saído do Lago, tinha um novo amigo, e não era um animal qualquer era um amigo régio.
Por sua vez, o Leão estava consciente do impacto que estava a causar naquele amigo branco, e o seu ego estava cada vez mais insuflado
Curiosamente uma tristeza apoderou-se dele. Realmente era um animal especial mas por alguma razão também não era feliz. Caçava, caçava, caçava, provia o sustento daqueles que dependiam dele; lutava para manter a sua imagem e poder, (sim porque, senão se acautelasse, qualquer outro Leão, de menor juba, usurparia o seu trono).
Lembrou-se de outros tempos, de quando era apenas um leãozito e tinha uma juba que não lhe dava motivos para se orgulhar. Nessa altura passava horas a admirar as estrelas, a lua, e não compreendia por que razão não as podia alcanças. Decidiu então, com a determinação que lhe era característica, que no dia em que fosse rei iria também mandar no céu e desvendaria todos os seus mistérios.
Mas o reinado já ia longo, e nunca tinha conseguido lá chegar. Tocado pela leveza do Cisne, confiou-lhe esta sua amargura, e desabafou com ele esta sua tristeza.
- Há estrelas e lua no céu??? – questionou incrédulo o Cisne.
- Claro! Mas tu não olhas para cima?
- Não – respondeu calmamente – a minha vida é a do Lago, só olho para aquilo que me envolve, não posso desejar os elementos que não posso ter.
- Mas é claro que podes! – assegurou – Deves ser ambicioso. Julgas que eu seria o que sou senão fosse muito exigente e não lutasse por tudo aquilo que os meus olhos vêem?
Subitamente, tocado pela empolgação do momento, o Leão teve uma ideia luminosa, que iria mudar para sempre a vida destes dois seres.
- Vem comigo conhecer o Céu e a Terra!
- Não posso… tenho medo. O Lago é mais seguro, é a única realidade que conheço, não posso sair daqui. Fica tu comigo. Podes matar a tua sede, sempre que quiseres, podes desbravar estas margens e podes conversar sempre comigo.
- Eu no Lago? – Ironizou com desdém - Já imaginaste como ficaria a minha juba? Perderia toda a imponência, o meu aspecto deve ser sempre superior, soberbo, senão perco o respeito dos meus súbditos. Vem tu comigo, vá lá, vá lá, não tenhas medo… eu sou o Rei, lembras-te? Comigo estás protegido, em segurança, não deixarei que nenhum outro animal se aproxime para te fazer mal.
O coração do Cisne bateu com mais força, só o tinha sentido bater assim, quando um caçador se aproximou do Lago para caçar os seus irmãos, mas agora era um bater diferente, as suas penas estavam eriçadas, os seus olhos brilhavam. Decidiu então que iria abandonar o seu habitat e iria aventurar-se em terras de sua majestade.
Foram dias sublimes, aqueles que passaram juntos, o Leão, ufano, mostrava ao Cisne todas as maravilhas de Terra, todos os animais, as rochas, as plantas e a ave deixou-se envolver naquele mundo mágico.
Mas ambos tinham um sonho comum que tardava em se concretizar, faltava-lhes conhecer o céu e as estrelas.
O Cisne pensava sempre que o Leão estava a adoptar a estratégia do “guarda o melhor para o final” e que antes de regressar ao Lago mostrar-lhe-ía o que lhe prometeu E o outro não queria desiludi-lo pois não sabia como lhe dizer que não conhecia o caminho que os faria alcançar o Céu.
Um dia o Leão foi iluminado. Lembrou-se que poderia levar o seu amigo até ao cimo de uma montanha e desta forma estaria mais perto do Céu. Lembrou-se ainda que os Cisnes podem voar e talvez ele conseguisse soltar-se naquela plenitude. Se assim o pensou, melhor o executou e partiram os dois à descoberta.
Quando chegaram ao cimo da montanha, o Leão ficou ainda mais orgulhoso do seu desempenho, afinal, só ele conseguira a Odisseia de retirar o Cisne ao Lago e aproximá-lo tão perto do céu.
Por sua vez, o Cisne estava extasiado com a beleza celeste, com as estrelas cintilantes, com o brilho e luminosidade da Lua. Tudo ali lhe parecia mais puro, mais belo, mais verdadeiro. Era ali que Deus, O todo Poderoso, O que criou tudo e todos, O que brincava com eles às escondidas e se escondia numa nuvem mágica, e era ali que estava ele também, um ser tão frágil e indefeso.
Conhecedor dos pensamentos do Cisne, disse-lhe o Leão:
- Tu és maior do que julgas ser. Eu sou conhecedor do meu reino e conheço todas as características dos animais, sabias que os Cisnes podem voar?
A avezinha nem queria acreditar no que ouvia. Ela que outrora nadava no seu Lago, e não conhecia outra forma de se movimentar, num curto espaço de tempo, já tinha aprendido, com o Leão, a andar pela Terra e agora ele afiançava-lhe que ainda podia voar??? Inacreditável!!!
- Não tenhas medo, abre as tuas asas, deixa que a mão do vento te proteja e descobre tudo o que o Universo tem reservado para ti.
Timidamente o Cisne, abriu as suas esplêndidas asas imaculadas e mergulhou no azul índigo do céu, fazendo assim a viagem mais extraordinária da sua vida, sentindo-se tocado pela energia cósmica do Universo.
Quando regressou, pleno de vida e de amor, agradeceu humildemente ao Leão dizendo-lhe:
- Primeiro mostraste-me a Terra, depois mostraste-me a Lua e agora fizeste-me chegar às estrelas. E uma lágrima feliz deslizou no seu rosto.
Enquanto se olhavam em silêncio e contemplavam as maravilhas do Universo, não perceberam que se aproximava, já há algum tempo, uma serpente malévola que assim que cravara os olhos no Cisne, desejou espetar-lhe todo o seu veneno, afinal não era todos os dias que andava por ali um animal como aquele.
O Cisne incauto, não percebeu o olhar lascivo da serpente que se acercava e só quando a sua língua mortífera lhe tocou percebeu que um líquido gelado percorria todo o seu corpo e soltou um grasno de dor.
Incrédulo, o Leão viu a vida do protegido fugir-lhe por entre as patas e gritou com desespero:
- Não morras! Não vás! Não desistas da vida, ainda podes recuperar.
O Cisne, esvaindo-se no seu doce sangue, viu a candura da sua plumagem branca manchada pelo vermelho da morte, e disse:
- Um dia também tu perderás a coroa e o ceptro e no brilho das águas cristalinas, ou no calor da planície, ou ainda no brilho cintilante da Lua, sei que nos iremos encontrar.
Tristemente, o Leão colocou o Cisne moribundo no seu dorso e resolveu levá-lo até ao Lago Encantado para que pudesse descansar em paz.
Ao entregá-lo ao azul das águas, outros Cisnes acercaram-se, desdenhando e desprezando aquele que agora regressava. Afinal, o Cisne ousara voar mais alto, sair daquele porto seguro para explorar o desconhecido, abandonar todos aqueles que sempre ali estiveram, tudo isto para fazer parte dos serões da corte real. Não lhe perdoariam.
O Cisne sentiu todo este desdém, mas também sentiu a dor e o amor espelhados no rosto do Leão.
E a morte veio Libertadora.
(Recebido por email)
NB:As histórias dos animais adaptam-se sempre aos humanos
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Como uma flor vermelha
À sua passagem a noite é vermelha,
E a vida que temos parece
Exausta, inútil, alheia.
Ninguém sabe onde vai nem donde vem,
Mas o eco dos seus passos
Enche o ar de caminhos e de espaços
E acorda as ruas mortas.
Então o mistério das coisas estremece
E o desconhecido cresce
Como uma flor vermelha.
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
domingo, 6 de julho de 2008
The story
sábado, 5 de julho de 2008
Quando falar...
Quando falar...
Quando falar...
Quando falar...
Quando falar...
Quando falar...
Quando falar...
Quando falar...
Quando falar...
Quando falar...
sexta-feira, 4 de julho de 2008
quinta-feira, 3 de julho de 2008
The whole of the moon
Tu segurava-lo nas mãos
Eu tive visões
Mas tu viste tudo
Eu vaguei pelo mundo durante anos
Enquanto tu ficaste no teu quarto
Eu vi o crescente
E tu viste a lua cheia
A lua cheia
Tu estavas lá entre o cordame
com o vento nos calcanhares
Tu esticaste-te para as estrelas
Tu sabes o que é tentar chegar
Alto de mais, longe de mais, cedo de mais.
Tu viste a lua cheia
Eu estava por terra
Enquanto tu enchias os céus
A verdade confundia-me
Eu atravessava mentiras
Eu vi um vale sujo de lama
Tu viste o paraíso
Eu vi o crescente
Tu viste a lua cheia
Eu falei de asas
Tu voaste
………….
“Todos os sonhos e visões preciosas
sob as estrelas
Tu subiste a escada
com o vento nas tuas velas
Tu chegaste como um cometa
Incendiando o teu caminho
Alto de mais, longe de mais,cedo de mais…”
Acreditar na vida...III
Buscar novos horizontes.
Vencer a nós mesmos.
Sair da passividade.
Mimar a criança interior.
Praticar a humildade.
Adorar calor humano.
Viver apaixonado pela vida!
Entender que há limites.
Ter auto-estima.
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Subir a montanha
Gabriel Garcia Marques