segunda-feira, 30 de junho de 2008

Luz da aurora

Acreditar na vida...ll


Estimular a criatividade.
Não se prender a detalhes.

Brincar como uma criança.
Chorar de felicidade...Ter pensamento positivo.

Respeitar os sentimentos dos outros.
Rir sozinho.
Ser sincero.

Encontrar a felicidade nas pequenas coisas.

Entender que somos pessoas únicas.
É dançar sem medo.

Não se apegar a bens materiais.

Respirar a brisa do mar.

Ouvir a melodia suave de uma fonte.Observar a natureza.
Adorar um dia de chuva.

Amar

Silêncio

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
e que nele posso navegar sem rumo,
não respondas
às urgentes perguntas
que te fiz.
Deixa-me ser feliz
assim,
já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer enquanto
o nosso amor
durou.
Mas o tempo passou,
há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
matar a sede com água salgada...

Miguel Torga

sábado, 28 de junho de 2008

Cada lugar teu



Sei de cor cada lugar teu, atado em mim a cada lugar meu, tento entender o rumo que a vida nos faz tomar, tento esquecer a mágoa, guardar só o que é bom de guardar. Pensa em mim protege o que eu te dou. Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou, sem ter defesas que me façam falhar nesse lugar mais dentro
onde só chega quem não tem medo de naufragar. Fica em mim que hoje o tempo dói, como se arrancassem tudo o que já foi e até o que virá e até o que eu sonhei, diz-me que vais guardar e abraçar tudo o que eu te dei. Mesmo que a vida mude os nossos sentidos e o mundo nos leve pra longe de nós, e que um dia o tempo pareça perdido e tudo se desfaça num gesto só. Eu vou guardar cada lugar teu, ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar que eu vou chegar contigo onde só chega quem não tem medo de naufragar

Tema interpretado por Mafalda Veiga

Acreditar na vida...-l


É ter esperança no amanhã. Saber que após a noite vem o dia.
Viver intensamente as emoções!

Pular de alegria.
Não invadir o espaço alheio.

Ser espontâneo.
Apreciar o nascer e o pôr-do-sol.


Amar as pessoas incondicionalmente.
Aproveitar todos os momentos...
Vencer a depressão!
e cantar no chuveiro.

Confiar na voz da intuição.
Perdoar as pessoas.

É a vida

Vida-S.Dali

É uma escada em caracol

e que não tem corrimão.

Vai a caminho do Sol

mas nunca passa do chão.

Os degraus, quanto mais altos,

mais estragados estão.

Nem sustos nem sobressaltos

Servem sequer de lição.

Quem tem medo não a sobe.

Quem tem sonhos também não.

Há quem chegue a deitar fora

O lastro do coração.

Sobe-se numa corrida .

Correm-se p'rigos em vão.

Adivinhaste: é a vida

a escada sem corrimão

David Mourão Ferreira

sexta-feira, 27 de junho de 2008

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Ausência


Num deserto sem água
numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por mais que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Sabedoria

terça-feira, 24 de junho de 2008

Lembra de mim

Kilimanjaro

Máquina do tempo


O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto, é a matéria.
Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.

António Gedeão

Confissões

Só por existir,
Só por duvidar,
Tenho duas almas em guerra
E sei que nenhuma vai ganhar.


Só por ter dois sóis
Só por hesitar
Fiz a cama na encruzilhada
E chamei casa a esse lugar.


E anda sempre alguém por lá
Junto à tempestade
Onde os pés não têm chão
E as mãos perdem a razão.


Só por inventar
Só por destruir
Tenho as chaves do céu e do inferno
E deixo o tempo decidir.


Jorge Palma
(Só-1991)

Sentimentos

“Nunca desista de uma amizade ou de um grande amor só porque a distância os separou; seja paciente como o sol e a lua pois quando se encontram formam um dos fenómenos mais belos do universo.”

Sonhos


Quando acordamos de manhã, o sonho da noite dissolve-se e nós dizemos: "Era um sonho, não era real." Mas alguma coisa no sonho deve ter sido real, senão ele não existiria. Quando a morte se aproxima, talvez olhemos para trás e nos questionemos se a nossa vida foi apenas mais um sonho. Mesmo agora, se olharmos para as férias do ano passado ou para o que se passou ontem, verificamos que é muito semelhante ao sonho que tivemos a noite passada.Existe o sonho e existe o sonhador do sonho. O sonho é um breve jogo de formas. É o mundo - relativamente real, mas não absolutamente real. Depois há o sonhador, a realidade absoluta, na qual as formas vão e vêm. O sonhador não é a pessoa. A pessoa faz parte do sonho. O sonhador é a base na qual o sonho aparece, aquilo que torna o sonho possível. É o absoluto que subjaz ao relativo, o intemporal que subjaz ao tempo, a consciência na forma e por detrás da forma. O sonhador é a própria consciência - quem nós somos.Acordar dentro do sonho é o nosso intuito agora. Quando estamos despertos dentro do sonho, o drama do mundo criado pelo ego chega ao fim, e um sonho mais benéfico e maravilhoso começa. É o novo mundo.

(Eckhart Tolle in Um novo mundo)

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Heaven



"O céu onde começa?É imediatamente acima do chão?

Então estamos sempre no céu."

Ana Hatherly

Nunca te esqueças do pote de vidro


Quando a tua vida parece um caos e as 24 horas por dia parecem não chegar, lembra-te do pote de vidro e do café!


Na sala de aula o professor de filosofia estava de pé com alguns objectos em cima da secretária. Quando a aula começou ele, calado, pegou num frasco grande de vidro vazio e começou a enche-lo com bolas de golfe. Quando não cabiam mais ele perguntou aos alunos se achavam que o frasco estava cheio. Todos responderam que sim.


O professor então pegou num saco de feijões secos e ao chocalhar o frasco estes iam entrando para os buracos vazios entre as bolas de golfe.
Quando não cabiam mais ele perguntou aos alunos se achavam que o frasco estava cheio? Todos responderam que sim.


Neste ponto o professor despejou um saco de areia para dentro do frasco. Como é óbvio a areia ocupou todo o espaço restante do frasco.
Quando não cabiam mais ele perguntou aos alunos se achavam que o frasco estava cheio?
Todos responderam que sim.


Foi então que o professor agarrou em dois copos de café e os entornou lá para dentro. Agora sim não havia mais espaço!! Os alunos desataram a rir!!!


"Agora," disse o professor enquanto as gargalhadas ainda se ouviam, "Eu quero que vocês reconheçam que este frasco representa a organização da vossa vida".


- "As bolas de Golf são as coisas mais importantes - Deus; a família; os filhos; a saúde; os amigos e tudo o que vos é mais querido de modo a que se tudo na vida desaparecesse e só ficassem elas, a vossa vida continuava cheia!"


- "Os feijões são as outras coisas importantes da vida: o trabalho; a casa; o carro;" - "A areia é tudo o resto das coisinhas pequeninas."


Se encherem primeiro o frasco com a areia , já não há espaço para o feijão nem as bolas de golfe. O mesmo se passa com a vida. Se gastarem todo o tempo e a vossa energia com as pequenas coisas nunca vão ter espaço para as coisas que são verdadeiramente importantes para vocês.


Prestem atenção às coisas que são essenciais à vossa felicidade. Brinquem com as crianças. Saiam para um jantar romântico.

Vai haver sempre tempo para arrumar a casa, para despachar um trabalho que só falta um bocadinho.Tomem conta das vossas bolas de golfe primeiro e das coisas que têm mesmo importância. Tenham prioridades.
Para o resto vai sempre haver espaço. Não encham o vosso frasco com a areia primeiro pois as bolas de golfe não vão caber no fim.


Um perguntou: - E o café o que é ?
- Ainda bem que perguntas, eu ia agora mesmo vos dizer. É que mesmo que sintam que a vossa vida está cheia, há sempre espaço para beber um café com um amigo!!

Não conheço o autor, recebi por email.

As rosas


"Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tarde luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas."


Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 21 de junho de 2008

Verão-António Vivaldi

Jamais deixe de ser criança

Jamais deixes de ser criança...
Nunca deixes de sentir, gostar, ver e extasiar-te
diante de coisas tão grandiosas
como o ar, o voo e os sons da luz do sol dentro de ti.

Se achares preferível,
usa uma máscara para proteger a criança do mundo.

Mas lembra-te que no dia em que permitires
que essa criança dentro de ti desapareça,
terás crescido e já não estarás vivo.

Richard Bach

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Palavras sábias

Sininho*******Peter Pan



I have a smile stretched from ear to ear

I see you walking down the road

We meet at the lights, I stare for a while

The world around us disappears

It's just you and me on my island of hope

A breath between us could be miles

Let me surround you, a sea to your shore

Let me be the calm you seek

But everytime I'm close to you

There's too much I can't say

And you just walk away

And I forgot to tell you

I love you

And night's too long

And cold here

Without you

I grieve in my condition

For I cannot find the words to say

I need you so

And everytime I'm close to you

There's too much I can't say

And you just walk away

And I forgot to tell you

I love you

And night's too long

And cold here

Without you

I grieve in my condition

For I cannot find the words to say

I need you so

terça-feira, 17 de junho de 2008

A felicidade exige valentia


"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo,e posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios,incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

Fernando Pessoa

Partida


Rua da Maianga



Rua da Maianga
que traz o nome de um qualquer missionário
mas para nos somente
a rua da Maianga

Rua da Maianga

ás duas horas da tarde
lembrança das minhas idas para a escola
e depois para o liceu
Rua da Maianga dos meus surdos rancores
que sentiste os meus passos alterados
e os ardores da minha mocidade
e a ânsia dos meus choros desabalados!

Rua da Maiaga

ás seis horas e meia
apito do comboio estremecendo os muros
Rua antiga de pedra incerta
que feriu meus pezitos de criança
e onde depois o alcatrão veio lembrar
velocidades aos carros
e foi luto na minha infãncia passada!

(Nene foi levado pró hospital
meus olhos encontraram Nene morto
meu companheiro de infância de olhos vivos
seu corpo morto numa pedra fria!)

Rua da Maianga

a qualquer hora do dia
as mesmas caras nos muros
(As caras da minha infância
nos muros inacabados!)
as mocas nas janelas fingindo costurar
a velha gorda faladeira
e a pequena moeda na mão do menino
e a goiaba chamando dos cestos
á porta das casas!
(Tão parecido comigo esse menino!)

Rua da Maianga

a qualquer hora
o liso alcatrão e as suas casas
as eternas mocas de muro
Rua da Maianga me lembrando
meu passado inutilmente belo
inutilmente cheio de saudade!

Mário António,

Palavras...leva-as o vento


Memórias

domingo, 15 de junho de 2008

Labirintos


"A vida não é um corredor recto e
tranquilo que nós percorremos
livres e sem empecilhos,
mas um labirinto de passagens,
pelas quais nós devemos procurar nosso caminho,
perdidos e confusos,
de vez em quando presos em um beco sem saida.
Porém, se tivermos fé, uma porta
sempre será aberta para nós,
não talvez aquela sobre a qual nós mesmos nunca pensamos,
mas aquela que definitivamente se revelará boa para nós
"

Certíssimo

sábado, 14 de junho de 2008

É doce morrer no mar

Conversas sobre a paixão


"A paixão é o amor de transformar a existência em acção. Serve de combustível ao motor da criação. Faz com que as concepções se tornem experiência.
A paixão é a chama que nos estimula a expressar quem nós realmente somos. Nunca renegues a paixão pois isso é renegar quem tu és e quem realmente queres ser.O renunciador nunca renega a paixão - o renunciador renega simplesmente o apego aos resultados.
A paixão é um amor pela feitura. A feitura é a existência, experimentada. Mas o que é que muitas vezes se cria como parte dessa feitura? A expectativa.Viver a vida sem expectativa - sem a necessidade de resultados específicos - isso é liberdade. É Santidade. É como Eu vivo.
A Minha Alegria está no acto de criar, não no desfecho.Agora, uma coisa é ser amor - e outra muito diferente fazer algo com amor. A alma anseia por fazer algo por si mesma para que talvez possa vir a conhecer-se na sua própria experiência. Por isso tentará realizar o seu mais sublime ideal através da acção.É a essa ânsia de fazer isso que se chama paixão.
Mata a paixão e matarás Deus. A paixão é Deus a querer saudar-te.Mas repara que assim que Deus (ou Deus-em-ti) fizer essa coisa com amor, Deus realiza-Se e não precisa de mais nada.
Já o homem sente muitas vezes que precisa de um retorno do seu investimento. Se vamos amar alguém, óptimo - mas o melhor é recebermos também algum amor em troca. Uma coisa desse género.Isso não é paixão. Isso é expectativa.É a maior fonte de infelicidade do homem. É o que o separa de Deus.
O renunciador renuncia, portanto, aos resultados - mas nunca, nunca renuncia à paixão. Aliás, o Mestre sabe intuitivamente que o caminho é a paixão.A via para a auto-realização.
Mesmo em linguagem terrena, poderá dizer-se com toda a justiça que se não tiveres uma paixão por nada não tens vida nenhuma."

(Neale Walsch in Conversas com Deus)

Magia


Quando pela manhã se abrem as janelas
E entra a brisa da felicidade,
isto é magia.
Quando se cheira uma rosa encantada
E se sente o perfume de um beijo ardente,
isto é magia.
Quando os raios escaldantes do sol
Se transformam em fonte eterna,
isto é magia.
Quando se mergulha nas gotas da chuva
E navegamos pela imensidão,
isto é magia.
Quando se toca nas cores quentes do por do sol
E descobrimos cânticos dourados,
isto é magia.
Quando se vê no reflexo do brilho do luar
Os contornos íntimos da sua beleza,
Se sente o perfume ardente do teu beijo,
O calor penetrante da tua ternura,
A imensidão absorvente do teu carinho,
Isto é AMOR.

Jorge Viegas
(Poeta moçambicano)

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Meus oito anos

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
..........................................
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d´amor!
............................................
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingénuo folgar!
O céu bordado d´estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
..............................
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
................................
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
— Pés descalços, braços nus
—Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
...............................
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

Casimiro de Abreu

São meus estes rios



São meus estes rios
que buscam caminho
rastejando entre luar e silêncio,
sombra e madrugada,
até ao seu fim marítimo.

A minha alma está neles,
líquida e sonora
como a água entre o quissange das pedras,
o anoitecer nas fontes.

Tenho rios vermelhos e quentes
na minha dimensão física,
rios remotos, remotos como eu.

Manuel Lima
(poeta angolano)

quinta-feira, 12 de junho de 2008

A flor proibida

Por detrás de cada flor
há um homem de chapéu de coco e sobrolho carregado.
Podia estar à frente ou estar ao lado,
mas não, está colocado
exactamente por detrás da flor.
Também não está escondido nem dissimulado,
está dignamente especado
por detrás da flor.
Abro as narinas para respirar
o perfume da flor,não de repente
(é claro) mas devagar,
a pouco e pouco,
com os olhos postos no chapéu de coco.
Ele ama-me. Defende-me com os seus carinhos,
protege-me com o seu amor.
Ele sabe que a flor pode ter espinhos,
ou tem mesmo,
ou já teve,
ou pode vir a ter,
e fica triste se me vê sofrer.
Transmito um pensamento à flor
sem mover a cabeça e sem olhar.
De repente,
como um cão cínico arreganho o dente
e engulo-a sem mastigar

Rómulo de Carvalho

A Manga

Fruta do paraíso
companheira dos deuses
as mãos
tiram-lhe a pele
dúctil
como, se de mantos
se tratasse
surge a carne chegadinha
fio a fio
ao coração
leve
morno
mastigável
o cheiro permanece
para que a encontrem
os meninos
pelo faro

Ana Paula Tavares
(Poetisa angolana)

Resistência


Num maboqueiro
três maboques
À sombra do maboqueiro
um luando

Luanda
um maboqueiro
três maboques um luando
três mabecos

Na lua anda
uma matilha de mabecos
No luando
resisto ao sono

Um maboque
dois maboques
três maboques
Acerto apenas num mabeco

Em Luanda
no luando
com três maboques
resisto
Um mabeco morto

A lua andando
lá no alto
e no luando
chupo o suco
dum maboque
e retempero as forças
Agarro em dois maboques e espero

Jorge Manuel de A. Arrimar
(Poeta angolano)

terça-feira, 10 de junho de 2008

Razões


Balada triste da perdição

Olhos nos olhos perdido
eu vivo fugido
do mundo a cantar.

Sonhos, quimeras, saudades,
mentiras, verdades,
estão-se apagando.

Beijos de ingenuidade;
Tuas leviandades
que me vão matando.

Olho o caminho perdido
num simples pedido
desse teu olhar.

M.A.S.
Novo Redondo

domingo, 8 de junho de 2008

Horas perfeitas

Ó dia de hoje, ó dia de horas claras
florindo nas ondas, cantando nas florestas,
No teu ar brilham transparentes festas
E o fantasma das maravilhas raras
em que há por vezes súbitas demoras
Plenas como pausas de um verso.

Ó dia de hoje, ó dia de horas leves
bailando na doçura
e na amargura
De serem perfeitas e de serem breves.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Chegar a algures


sábado, 7 de junho de 2008

Liberdade...

Quem me dera ser vagabundo
de um mundo
qualquer!...
…………………………………..
Quem me dera ir,…
a comer as amoras dos valados,
a dormir sobre a grama, sem telhados,
que não fossem os do céu!...
Ser “Eu”…
acenar aos que trabalham nos campos,
e parar,
a ouvir as canções populares!...
Seguir sempre sozinha, comigo
e com o sol…
ver nascer o arrebol,
e caminhar…sem destino…
ao som não sei de que hino,…
mas livre…livre!...
……………………………………………
Ah!...ser simples!...
não pensar na modista,
nem no dentista,
nem nas unhas por polir…
não pensar na guerra
nem na pobreza…
saber só que a Natureza
é bela e igual para todos!...
Saber só, que caminho sozinha,
feliz com a minha liberdade!...
Não conhecer a saudade
do que ficou para trás!...
e saber que há sempre,
um fruto maduro,
e uma estrela brilhante,
para cada caminhante!...
Seguir…seguir sempre!...
Sem um fito…sem um fim….
mas caminhar mesmo assim….
com o vento a bater-me
nas tranças do cabelo, às lufadas,
e a deixar-me beijar
todas as noites pelo luar das estradas!...

Quem me dera ir….
sem pátria, nem lei…
abraçada aos sonhos que sonhei!....
……………………………………

Alda Lara
(in Cigana)

sexta-feira, 6 de junho de 2008


Nem os sonhos sabem que dizer
a esta rosa de alegria,
aberta nas minhas mãos
ou nos cabelos do dia.

O que sonhei é só água,
água só, roxa de frio.
Nenhuma rosa cabe nesta mágoa.
Dai-me a sombra de um navio.

Eugénio de Andrade

All I ask of you

No more talk of darkness,

forget these wide-eyed fears;

I'm here, nothing can harm you,

my words will warm and calm you.

Let me be your freedom,

let daylight dry your tears;

I'm here, with you, beside you,

to guard you and to guide you.

Say you love me every waking moment,

turn my head with talk of summertime.

Say you need me with you now and always;

promise me that all yousay is true,

that's all I ask of you.

Let me be your shelter,

let me be your light;

you're safe, no one will find you,

your fears are far behind you.

All I want is freedom,

a world with no more night;

and you, always beside me,

to hold me and to hide me.


Then say you'll share with me one love, one lifetime;

let me lead you from your solitude.

Say you need me with you, here beside you,

anywhere you go, let me go too,

Christine, that's all I ask of you

Say you'll share with me one love, one lifetime;

say the word and I will follow you.

Share each day with me,

each night, each morning.

Say you love me!

You know I do.

Love me, that's all I ask of you.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Amor e lágrimas


Ouve o mar que soluça na solidão
Ouve, amor, o mar que soluça
Na mais triste solidão
E ouve, amor, os ventos que voltam
Dos espaços que ninguém sabe
Sobre as ondas se debruçam
E soluçam de paixão
E ouve, amor, no fundo da noite
Como as árvores ao vento
Num lamento se debruçam
E soluçam para o chão

Vinicius de Moraes

Musa

Aqui me sentei quieta
Com as mãos sobre os joelhos
Quieta, muda secreta
Passiva como os espelhos

Musa ensina-me o canto
Imanente e latente
Eu quero ouvir devagar
O teu súbito falar
Que me foge de repente

Sophia de Mello Breyner Andresen


quarta-feira, 4 de junho de 2008

Eu não existo


Eu sei e você sabe,
já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo
levará você de mim
Eu sei e você sabe
que a distância não existe
Que todo grande amor
só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor,
não tenha medo de sofrer
Pois todos os caminhos
me encaminham prá você

Assim como o oceano
só é belo com o luar
Assim como a canção
só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
só acontece se chover
Assim como o poeta
só é grande se sofrer
Assim como viver
sem ter amor não é viver
Não há você sem mim,
eu não existo sem você

Vinicius de Moraes

Mar


Foi no mar que aprendi o gosto da forma bela
Ao olhar sem fim o sucessivo
Inchar e desabar da vaga
A bela curva luzidia do seu dorso
O longo espraiar das mãos da espuma
Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, 1 de junho de 2008

Be

Lost

On a painted sky

Where the clouds are hung

For the poet's eye

You may find him

If you may find him

There

On a distant shore

By the wings of dreams

Through an open door

You may know him

If you may

Be

As a page that aches for a word

Which speaks on a theme that is timeless

And the one

God will make for your day

Sing

As a song in search of a voice that is silent

And the Sun God will make for your way

And we dance

To a whispered voice

Overheard by the soul

Undertook by the heart

And you may know it

If you may know it

While the sand

Would become the stone

Which begat the spark

Turned to living bone

Holy, Holy

Sanctus, sanctus

Be

As a page that aches for a word

Which speaks on a theme that is timeless

And the one God will make for your day

Sing

As a song in search of a voice that is silent

And the one God will make for your way

Poema de aniversário


Nasci ontem
Quando fiz dez anos
completei dezoito
Minha adolescência
foi dos sete aos noventa
Aos sete já tinta cinquenta e seis
Dos vinte cinco pulei prós trinta e dois
Depois prós dezasseis
Depois cinquenta e nove
E vinte um
Assim tem sido meus dias
Enquanto o corpo faz aniversário em linha recta
A alma é rondómica e subjectiva
Ela depende, assim como o tempo de Einstein
Do que depende, eu não sei
Apenas sigo fazendo aniversários
E desfazendo-os
Existindo de tempos em tempos
Pois entre este que inspira
E este outro que sopra as velas
Não tenho idade.
(Desconheço o autor)