quarta-feira, 7 de maio de 2008

Um poema belo e triste


Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade: uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor…
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus…

Eugénio de Andrade

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