Trago em meus braços ramadas de buganvílias vermelhas para a última morada da que foi a Menina de Benguela e se está tornando a Menina de Angola.
Bem sei que os ramos de buganvílias têm espinhos, que laceram a carne fundo.
Mas nem por isso, ou talvez por isso mesmo, poderei deixar de trazer estas buganvílias vermelhas, de que tanto gostavas...
Vermelhas como o sangue que os nossos corações têm chorado...
Vermelhas como o sangue que a inveja (até depois da morte a inveja não te deixa) está fazendo brotar da nossa tristeza...
Menina de Benguela toda sonho e ternura...
Sonho que uma manhã tropical cortou cerce, como uma flor arrancada violentamente de uma haste...
Aceita estas buganvílias vermelhas, que te trago num momento de desespero e de revolta.
Revolta contra o destino...
Revolta contra a vida...
Revolta contra a inveja...
Não mais poderei estar ausente, quando a tua lembrança clamar por uma presença nas primeiras linhas...
Seria cobardia fugir.
E eu não quero ser cobarde.
Aqui estou, pois, com este ramo de buganvílias e de coração sangrado pelos espinhos.
Mas estou!
E o que é preciso é estar.
Que as buganvílias se tornem no símbolo do teu querer e do teu sonho...
Que os espinhos me lacerem, quanto mais as aperto contra o peito.
Mas que importa?...
Que importa o desespero, a raiva, se somos?...
Se trazemos até ti este punhado de buganvílias, de que tu tanto gostavas?
E eu aqui estou...
Que nesta noite de tristura o vivo das flores seja uma nota de coragem.
Agora, mais do que nunca, a coragem é necessária.
A coragem de sermos...
A coragem de estarmos...
A coragem de trazermos nos braços, rasgados pelos espinhos, um braçado de buganvílias...
Buganvílias para ti...
Buganvílias para a Menina de Benguela, para a Menina de Angola, toda sonho, coragem e ternura...
Aqui te deixo a Esperança nas flores que te trago...
A Esperança que nunca faltou no teu coração...
Adeus, Menina de Benguela...
Menina de Angola...
Adeus...
Até sempre!...
Orlando de Albuquerque
(Poema em memória da Alda Lara, sua esposa)
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