quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Cajueiro plantado no cérebro


- Oh, velho, disforme, cambuta, retorcido, feio-
-maravilhoso cajueiro da minha infância!
Vem de longe estender tua sombra amiga
Sobre meu corpo longo de suor e desespero...


Traz-me a carícia de tuas folhas-
-paraus de piratas nas lagoas da chuva
(Estou longe, quero regressar à minha terra...)
O suave aroma de teus ramos de pele encarquilhada, resinando,
Os esconderijos de teus braços nos cigarros proibidos.

Vem de longe, desse fundo sem eco da distância,
E traz-me a doce fragrância de um só caju maduro
Marcado com meu nome e data
E que os outros não descobriram...

Oferece-me a última vez que seja na vida
Teus ramos tenros para marinhar
Acrobacias impossíveis:
- Énu mal'ê! Énu mal'ê

António Cardoso

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