No espelho não é eu, sou mim. Não conheço mim, mas sei quem é eu, sei sim. Eu é cara-metade, mim sou inteira. Quando mim nasceu, eu chorou, chorou. Eu e mim se dividem numa só certeza. Alguém dentro de mim é mais eu do que eu mesma. Eu amo mim. Mim ama eu.By Rita Lee
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Outra noite
Outra noite
Outro sono
Como se eu sonhasse o sonho
De outro dono
Outro fumo, uma outra cinza
Outra manhã
Mordo a fruta
Outro é o sumo
Ando pela mesma casa
Com outro prumo
Outra sombra, outono
Chuva temporã
Será que já não vi
De modo impessoal
E em tempo diferente
Um dia estranhamente igual
Dias iguais
- Avareza de Deus
Passando indiferentes
Por estranhos olhos meus
Outros olhos
No teu rosto
Vou falar teu nome
E já teu nome é outro
Outra bruma
Sombra de outro sonho, alguém
Na manhã de junho
Outono, outubro, além
Etiquetas:
Chico Buarque da Holanda,
Preferidas
domingo, 14 de novembro de 2010
Angola
Não nasci do teu ventre
mas amei-te em cada Primavera
com a exuberância de semente...
...Não nasci do teu ventre
mas foi em ti que sepultei
as minhas saudades
e sofri as tempestades
de flor transplantada
prematuramente...
Não nasci do teu ventre
mas bebi o teu sortilégio
em noites de poesia
transparente...
Não nasci do teu ventre
mas foi à tua sombra
que fecundei rebentos novos
e alonguei os braços
para um destino transcendente...
Não serás terra do meu berço,
Mas és terra do meu ventre!
Amélia Veiga
sábado, 23 de outubro de 2010
O girassol
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Fernando Pessoa
Etiquetas:
Fernando Pessoa,
Poesia universal,
Portugal
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
O medo leva ao perigo
O medo sempre me guiou para o que eu quero. E porque eu quero, temo.
Muitas vezes foi o medo que me tomou pela mão e me levou.
O medo me leva ao perigo.
E tudo o que eu amo é arriscado.
Clarisse Lispector
Etiquetas:
Brasil,
Clarice Lispector,
Para meditar
terça-feira, 12 de outubro de 2010
era uma mulher com o seu amante
Às vezes sentava-se na rede, balançando-me com o livro aberto no colo,
sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante.
Clarice Lispector
Etiquetas:
Brasil,
Clarice Lispector,
Pensamentos
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Apresentação da porta!
Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.
Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de sopetão
Pra passar o capitão.
Só não abro pra essa gente
Que diz (a mim bem me importa . . .)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.
Eu sou muito inteligente!
Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Fecho tudo nesse mundo
Só vivo aberta no céu!
Vinícius de Moraes
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.
Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de sopetão
Pra passar o capitão.
Só não abro pra essa gente
Que diz (a mim bem me importa . . .)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.
Eu sou muito inteligente!
Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Fecho tudo nesse mundo
Só vivo aberta no céu!
Vinícius de Moraes
sábado, 25 de setembro de 2010
Perfeição
O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fracção de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exactidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exactidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.
Clarice Lispector
Etiquetas:
Brasil,
Clarice Lispector,
Poesia
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Já chegou!!!
Gosto das cores quentes do Outono e da tranquilidade que transmitem.
É a estação do romantismo.
É a estação do romantismo.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
domingo, 19 de setembro de 2010
Crepúsculo...
A luz desmaia num fulgor d’aurora,
Diz-nos adeus religiosamente…
E eu que não creio em nada, sou mais crente
Do que em menina, um dia, o fui… outrora…
…
E a esta hora tudo em mim revive:
Saudades de saudades que não tenho…
Sonhos que são os sonhos dos que eu tive…
Diz-nos adeus religiosamente…
E eu que não creio em nada, sou mais crente
Do que em menina, um dia, o fui… outrora…
…
E a esta hora tudo em mim revive:
Saudades de saudades que não tenho…
Sonhos que são os sonhos dos que eu tive…
sábado, 18 de setembro de 2010
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
terça-feira, 14 de setembro de 2010
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Conversas com Deus
Tudo na vida é uma meditação na qual se pode contemplar o Divino e vivendo dessa forma, aprendemos que tudo na vida é bênção.
Já não há luta, nem dor, nem preocupação.
Só há experiência.
Neale Donald Walsh
Neale Donald Walsh
Etiquetas:
Neale Donald Walsch,
Para meditar
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Nem sempre sou igual
Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Alberto Caeiro
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Alberto Caeiro
Etiquetas:
Alberto Caeiro,
Olhares,
Poesia universal,
Portugal
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Felicidade
Ela veio bater à minha porta
E falou-me a sorrir, subindo a escada:
“Bom dia, árvore velha e desfolhada”
E eu respondi: “Bom dia, folha morta”
Entrou: e nunca mais me disse nada...
Até que um dia (quando pouco importa!)
houve canções na ramaria torta
E houve bandos de noivos pela estrada...
Então chamou-me e disse:“Vou-me embora!
Sou a felicidade! Vive agora
Da lembrança do muito que te fiz”
E foi assim que em plena primavera,
Só quando ela partiu contou quem era...
E nunca mais eu me senti feliz!
Guilherme de Almeida
(poeta brasileiro)
E falou-me a sorrir, subindo a escada:
“Bom dia, árvore velha e desfolhada”
E eu respondi: “Bom dia, folha morta”
Entrou: e nunca mais me disse nada...
Até que um dia (quando pouco importa!)
houve canções na ramaria torta
E houve bandos de noivos pela estrada...
Então chamou-me e disse:“Vou-me embora!
Sou a felicidade! Vive agora
Da lembrança do muito que te fiz”
E foi assim que em plena primavera,
Só quando ela partiu contou quem era...
E nunca mais eu me senti feliz!
Guilherme de Almeida
(poeta brasileiro)
Etiquetas:
Brasil,
Guilherme de Almeida,
Olhares,
Poesia universal
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Cold, cold heart
I've tried so hard, my dear, to show that you're my every dream
Yet you're afraid each thing I do is just some evil scheme
A memory from your lonesome past keeps us so far apart
Why can't I free your doubtful mind and melt your cold cold heart?
Another love before my time made your heart sad and blue
And so my heart is payin' now for things I didn't do
In anger, unkind words I say that make the teardrops start
Why can't I free your doubtful mind and melt your cold cold heart?
There was a time when I believed that you belonged to me
But now I know your heart is shackled to a memory
The more I learn to care for you, the more we drift apart
Why can't I free your doubtful mind and melt your cold cold heart?
domingo, 5 de setembro de 2010
A vida é para mim...
A vida é para mim, está se vendo,
uma felicidade sem repouso:
eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
só pode ser medido em se sofrendo.
Bem sei que tudo é engano, mas, sabendo
disso, persisto em me enganar... Eu ouso
dizer que a vida foi o bem precioso
que eu adorei. Foi meu pecado... Horrendo
seria, agora que a velhice avança,
que me sinto completo e além da sorte,
me agarrar a esta vida fementida.
Vou fazer do meu fim minha esperança,
ó sono, vem!... Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida.
Mário de Andrade
uma felicidade sem repouso:
eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
só pode ser medido em se sofrendo.
Bem sei que tudo é engano, mas, sabendo
disso, persisto em me enganar... Eu ouso
dizer que a vida foi o bem precioso
que eu adorei. Foi meu pecado... Horrendo
seria, agora que a velhice avança,
que me sinto completo e além da sorte,
me agarrar a esta vida fementida.
Vou fazer do meu fim minha esperança,
ó sono, vem!... Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida.
Mário de Andrade
Etiquetas:
Mário de Andrade,
Poesia universal
sábado, 4 de setembro de 2010
O segredo dos meus olhos
O amor é vermelho. O ciúme é verde.
Meus olhos são verdes.
Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros.
Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.
Clarice Lispector
Etiquetas:
Brasil,
Clarice Lispector,
Poesia universal
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Estrada branca
Estrada branca
Lua branca
Noite alta
Tua falta caminhando
Caminhando, caminhando
Ao lado meu
Uma saudade
Uma vontade
Tão doída
De uma vida
Vida que morreu
Estrada passarada
Noite clara
Meu caminho é tão sozinho
Tão sozinho
A percorrer
Que mesmo andando
Para a frente
Olhando a lua tristemente
Quanto mais ando
Mais estou perto
De você
Se em vez de noite
Fosse dia
Se o sol brilhasse
E a poesia
Em vez de triste
Fosse alegre
De partir
Se em vez de eu ver
Só minha sombra
Nessa estrada
Eu visse ao longo
Dessa estrada
Uma outra sombra
A me seguir
Mas a verdade
É que a cidade
Ficou longe, ficou longe
Na cidade
Se deixou meu bem-querer
Eu vou sozinho sem carinho
Vou caminhando meu caminho
Vou caminhando com vontade de morrer
Lua branca
Noite alta
Tua falta caminhando
Caminhando, caminhando
Ao lado meu
Uma saudade
Uma vontade
Tão doída
De uma vida
Vida que morreu
Estrada passarada
Noite clara
Meu caminho é tão sozinho
Tão sozinho
A percorrer
Que mesmo andando
Para a frente
Olhando a lua tristemente
Quanto mais ando
Mais estou perto
De você
Se em vez de noite
Fosse dia
Se o sol brilhasse
E a poesia
Em vez de triste
Fosse alegre
De partir
Se em vez de eu ver
Só minha sombra
Nessa estrada
Eu visse ao longo
Dessa estrada
Uma outra sombra
A me seguir
Mas a verdade
É que a cidade
Ficou longe, ficou longe
Na cidade
Se deixou meu bem-querer
Eu vou sozinho sem carinho
Vou caminhando meu caminho
Vou caminhando com vontade de morrer
Vinicius de Moraes
Etiquetas:
Brasil,
Poesia universal,
Vinicius de Moraes
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Leitura
Não memorizo
palavas soltas
nem guardo comigo
o texto todo
gosto de saborear
as frases
aos poucos.
Pedro Du Bois
palavas soltas
nem guardo comigo
o texto todo
gosto de saborear
as frases
aos poucos.
Pedro Du Bois
Etiquetas:
Brasil,
Pedro Du Bois,
Poesia universal
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Intenso brilho
É impossível no mundo
estarmos juntos
ainda que do meu lado adormecesses.
O véu que protege a vida
nos separa.
O véu que protege a vida
nos protege.
Aproveita, pois,
que é tudo branco agora,
à boca do precipício,
neste vórtice
e fala
nesta clareira aberta pela insônia
quero ouvir tua alma
a que mora na garganta
como em túmulos
esperando a hora da ressurreição,
fala meu nome
antes que eu retorne
ao dia pleno,
à semi-escuridão.
Adélia Prado
(poetisa brasileira)
estarmos juntos
ainda que do meu lado adormecesses.
O véu que protege a vida
nos separa.
O véu que protege a vida
nos protege.
Aproveita, pois,
que é tudo branco agora,
à boca do precipício,
neste vórtice
e fala
nesta clareira aberta pela insônia
quero ouvir tua alma
a que mora na garganta
como em túmulos
esperando a hora da ressurreição,
fala meu nome
antes que eu retorne
ao dia pleno,
à semi-escuridão.
Adélia Prado
(poetisa brasileira)
Etiquetas:
Adélia Prado,
Brasil,
Poesia universal
sábado, 31 de julho de 2010
Despertares
A maior covardia do ser humano
é despertar o sentimento de outro sem ter a intenção de amá-lo.
domingo, 11 de julho de 2010
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Não basta a beleza que existe na lua
Tela de René F.G. Magritte
Todos têm os seus momentos de êxtase, o seu secreto sentido da morte, qualquer coisa que lhes serve de apoio. Visitei cada um dos meus amigos, tentando com os dedos inseguros abrir os seus pequenos cofres fechados.
Expuz-lhes a minha dor - não, não a dor, mas o sentimento de incompreensível mistério da vida- e pedi-lhes que a examinassem comigo. Alguns procuram os sacerdotes; outros a poesia.
Eu refugio-me junto dos meus amigos, vou procurar o meu próprio coração, busco qualquer coisa intacta entre frases e fragmentos, eu a quem não basta a beleza que existe na lua e nas árvores e para quem o contacto de uma pessoa com outra é tudo, mas que nem sequer isso consigo estabelecer, permanentemente imperfeito, frágil e indizìvelmente solitário.
Virgínia Woolf
Virgínia Woolf
domingo, 27 de junho de 2010
White flag
I know you think that
I shouldn't still love you, or tell you that.
But if I didn't say it, while I'd still have felt it
Where's the sense in that?
I promise I'm not trying to make your life harder
Or return to where we were
But I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be
I know I left too much mess and destruction
to come back again
And I caused nothing but trouble
I understand if you can't talk to me again
And if you live by the rules of "it's over"
then I'm sure that makes sense
But I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be
And when we meet
Which I'm sure we will
All that was then
Will be there still
I'll let it pass
And hold my tongue
And you will think
That I've moved on....
I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be
I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be
I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be
I shouldn't still love you, or tell you that.
But if I didn't say it, while I'd still have felt it
Where's the sense in that?
I promise I'm not trying to make your life harder
Or return to where we were
But I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be
I know I left too much mess and destruction
to come back again
And I caused nothing but trouble
I understand if you can't talk to me again
And if you live by the rules of "it's over"
then I'm sure that makes sense
But I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be
And when we meet
Which I'm sure we will
All that was then
Will be there still
I'll let it pass
And hold my tongue
And you will think
That I've moved on....
I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be
I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be
I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be
sábado, 26 de junho de 2010
o sonho dorme agora aqui comigo...
Tela de Andrew Wyeth
O sonho aprendeu a pairar bem alto,
lá onde o sobressalto nem sequer nasceu.
Namorou a trôpega ilusão,
até que trôpego e desajeitado,
desprendeu-se de seu reino idealizado,
veio pousar tamborilante em minha mão.
Assim, aquecido e aconchegado,
parece que se esqueceu de ir embora.
Na hora em que ressona distraído,
eu lhe pingo malemolências ao ouvido,
à sua inquietação eu me sujeito.
Eis que o sonho dorme agora aqui comigo,
seu corpo repousa no meu peito.
Flora Figueiredo
Etiquetas:
Brasil,
Flora Figueiredo,
Poesia universal
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Alma serena
Alma serena, a consciência pura,
assim eu quero a vida que me resta.
Saudade não é dor nem amargura,
dilui-se ao longe a derradeira festa.
Não me tentam as rotas da aventura,
agora sei que a minha estrada é esta:
difícil de subir, áspera e dura,
mas branca a urze, de oiro puro a giesta.
Assim meu canto fácil de entender,
como chuva a cair, planta a nascer,
como raiz na terra, água corrente.
Tão fácil o difícil verso obscuro!
Eu não canto, porém, atrás dum muro,
eu canto ao sol e para toda a gente.
Fernanda de Castro
assim eu quero a vida que me resta.
Saudade não é dor nem amargura,
dilui-se ao longe a derradeira festa.
Não me tentam as rotas da aventura,
agora sei que a minha estrada é esta:
difícil de subir, áspera e dura,
mas branca a urze, de oiro puro a giesta.
Assim meu canto fácil de entender,
como chuva a cair, planta a nascer,
como raiz na terra, água corrente.
Tão fácil o difícil verso obscuro!
Eu não canto, porém, atrás dum muro,
eu canto ao sol e para toda a gente.
Fernanda de Castro
Etiquetas:
Fernanda de Castro,
Poesia universal,
Portugal
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Das cantigas e das palavras
Tuas palavras antigas
Deixei-as todas, deixeia-as,
Junto com as minhas cantigas,
Desenhadas nas areias.
Tantos sóis e tantas luas
Brilharam sobre essas linhas,
Das cantigas — que eram tuas —
Das palavras — que eram minhas!
O mar, de língua sonora,
Sabe o presente e o passado.
Canta o que é meu, vai-se embora:
Que o resto é pouco e apagado.
Cecília Meireles
Deixei-as todas, deixeia-as,
Junto com as minhas cantigas,
Desenhadas nas areias.
Tantos sóis e tantas luas
Brilharam sobre essas linhas,
Das cantigas — que eram tuas —
Das palavras — que eram minhas!
O mar, de língua sonora,
Sabe o presente e o passado.
Canta o que é meu, vai-se embora:
Que o resto é pouco e apagado.
Cecília Meireles
Etiquetas:
Brasil,
Cecília Meireles,
Miminhos,
Poesia
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Quero acabar entre rosas
Quero acabar entre rosas, porque as amei na infância.
Os crisântemos de depois, desfolhei-os a frio.
Falem pouco, devagar.
Que eu não oiça, sobretudo com o pensamento.
O que quis? Tenho as mãos vazias,
Crispadas febrilmente sobre a colcha longínqua.
O que pensei? Tenho a boca seca, abstracta.
O que vivi? Era tão bom dormir!
Álvaro de Campos
Os crisântemos de depois, desfolhei-os a frio.
Falem pouco, devagar.
Que eu não oiça, sobretudo com o pensamento.
O que quis? Tenho as mãos vazias,
Crispadas febrilmente sobre a colcha longínqua.
O que pensei? Tenho a boca seca, abstracta.
O que vivi? Era tão bom dormir!
Álvaro de Campos
Etiquetas:
Álvaro de Campos,
Poesia universal,
Portugal
terça-feira, 22 de junho de 2010
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Lua adversa
Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
Cecília Meireles
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
Cecília Meireles
Etiquetas:
Brasil,
Cecília Meireles,
Poesia universal
domingo, 20 de junho de 2010
sábado, 19 de junho de 2010
O que é o espaço?
O que é o espaço
senão o intervalo
por onde
o pensamento desliza
imaginando imagens?
O biombo ritual da invenção
oculta o espaço intermédio
o interstício
onde a percepção se refracta
Pelas imagens
entramos em diálogo
com o indizível
Ana Hatherly
Etiquetas:
Ana Hatherly,
Comparações,
Poesia universal
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Ciclo um
Tela de Leonid Afremov
No final do dia
retorna
(quando a chuva permite
o passo rápido)
a casa espera
a sua chegada
humilde quem chega
humilde quem espera
o dia finda no retorno
da configuração do ciclo
na certeza da repetição
do próximo dia.
Pedro Du Bois
retorna
(quando a chuva permite
o passo rápido)
a casa espera
a sua chegada
humilde quem chega
humilde quem espera
o dia finda no retorno
da configuração do ciclo
na certeza da repetição
do próximo dia.
Pedro Du Bois
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Visto de baixo...
Visto de baixo, o arvoredo
é renda verde de luar,
desmanchada ao vento crespo
que à noite regressa ao mar.
Vão passando os varredores;
vão passando e vão varrendo
a terra, a lembrança, o tempo.
E, de momento em momento,
varrem seu próprio passar...
Cecília Meireles,
é renda verde de luar,
desmanchada ao vento crespo
que à noite regressa ao mar.
Vão passando os varredores;
vão passando e vão varrendo
a terra, a lembrança, o tempo.
E, de momento em momento,
varrem seu próprio passar...
Cecília Meireles,
Etiquetas:
Brasil,
Cecília Meireles,
Poesia universal
sexta-feira, 4 de junho de 2010
terça-feira, 1 de junho de 2010
Arte de Amar
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Manuel Bandeira
Etiquetas:
Brasil,
Manuel Bandeira,
Poesia universal
segunda-feira, 31 de maio de 2010
sábado, 29 de maio de 2010
sexta-feira, 28 de maio de 2010
e ao toque...
Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Clarice Lispector
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Clarice Lispector
quinta-feira, 27 de maio de 2010
segunda-feira, 24 de maio de 2010
só por ter tido carinho...
Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado:
pensava que, somando as compreensões, eu amava.
Não sabia que, somando as incompreensões
é que se ama verdadeiramente.
Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.
Clarice Lispector
Clarice Lispector
Etiquetas:
Clarice Lispector,
Para meditar
sexta-feira, 21 de maio de 2010
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Os degraus
Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...
Mário Quintana
Etiquetas:
Brasil,
Mário Quintana,
Poesia universal
terça-feira, 18 de maio de 2010
Na hora da colheita
Tela de Steve Hanks
Um amor como este
não pede mar ou praia:
somente o vento leste
erguendo a tua saia.
O resto é o futuro
além, à nossa espreita:
doce fruto maduro
na hora da colheita.
Daniel Filipe
não pede mar ou praia:
somente o vento leste
erguendo a tua saia.
O resto é o futuro
além, à nossa espreita:
doce fruto maduro
na hora da colheita.
Daniel Filipe
Etiquetas:
Cabo Verde,
Daniel Filipe,
Poesia universal
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Rosas
Flor tão adorável
Que eu admiro,
De ti me inspiro
Com muita emoção!
E não toques nela
Pois ela é tão bela;
Não lhe tire a vida
Se tens coração!
Rosa deslumbrante
De muitos encantos,
Consola meus prantos
No leito de dor!
Na terra está a rosa
Tão linda, formosa
É maravilhosa
A rosa do amor!
Etiquetas:
Autor desconhecido,
Flores,
Olhares
segunda-feira, 10 de maio de 2010
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Reinvenção
A vida só é possível
reinventada.
Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... - mais nada.
Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcanço...
Só - no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só - na treva,
fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Cecília Meireles
Etiquetas:
Brasil,
Cecília Meireles,
Poesia universal
terça-feira, 4 de maio de 2010
Sucedeu assim
Assim,
Começou assim
Uma coisa sem graça
Coisa boba que passa
Que ninguém percebeu
Assim,
Depois ficou assim
Quis fazer um carinho,
Receber um carinho,
E você percebeu
Fez-se uma pausa no tempo
Cessou todo meu pensamento
E como acontece uma flor
Também acontece o amor
Assim,
Sucedeu assim,
E foi tão de repente
Que a cabeça da gente
Vira só coração
Não poderia supor
Que o amor nos pudesse prender,
Abriu-se em meu peito um vulcão
E nasceu a paixão
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Noites com sonhos...não só as de Verão!
Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem garanta que nem todas,
só as de Verão.
No fundo, isso não tem importância.
O que interessa mesmo não é a noite em si,
são os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre,
em todos os lugares, em todas as épocas do ano,
dormindo ou acordado.
W. Shakespeare
domingo, 2 de maio de 2010
Dia da Mãe
Hoje é dia da mãe.
Todos os dias o são.
Todos os dias são de saudade.
Todos os dias são para recordar
que hoje e sempre é o
Dia da mãe.
Tela de Gustav Klimt
terça-feira, 13 de abril de 2010
Dia do beijo....huuuuuumm!!!
Vamos celebrar este "delicioso" dia, dançando esta quente kizomba.
Dia feliz.
terça-feira, 30 de março de 2010
Quero alongar a vista...
(...)
(...)
(...)
Se, de noite, deitado mas desperto,
Na lucidez inútil de não poder dormir,
Quero imaginar qualquer coisa
E surge sempre outra (porque há sono,
E, porque há sono, um bocado de sonho),
Quero alongar a vista com que imagino
Por grandes palmares fantásticos,
Mas não vejo mais,
Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras.
(...)
sexta-feira, 26 de março de 2010
Os Ombros Suportam o Mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Carlos Drummond de Andrade
Etiquetas:
Brasil,
Carlos Drummond de Andrade,
Poesia universal
quinta-feira, 25 de março de 2010
segunda-feira, 22 de março de 2010
Esta noite
Tela de Franciszek Zmurko
Esta noite dormi perdida, entregue nos teus braços,
saciada e exausta,
deitei-me de ventre para baixo, nua,
deitada por cima de ti,
embriagada pelo teu cheiro, o calor do teu corpo,
as tuas entranhas, o teu abdómen,
as tuas mãos, nas minhas costas,
o teu abraço guardando-me profundamente,
para que não fugisse,
para que não quebrasse o nosso laço de cumplicidade,
adormecido estavas entregue a mim,
longe de tudo e de todos,
queria chamar-te para que me possuísses novamente,
mas o teu sono era tão profundo,
em paz, que fiquei ali,
somente a contemplar-te como podias ser meu,
sem estares ali, mas mesmo assim,
fazendo parte deste meu sonho desperto.
Sónia Sultuane
Etiquetas:
África em versos,
Moçambique,
Sónia Sultuane
domingo, 21 de março de 2010
Ser mulher
Mulher se enfeita toda e perfuma seu leito,
ainda que seu amor nem perceba mais tais detalhes.
sábado, 20 de março de 2010
sexta-feira, 19 de março de 2010
Dádiva
Sou mais forte que o silêncio dos muxitos
mas sou igual ao silêncio dos muxitos
nas noites de luar e sem trovões.
Tenho o segredo dos capinzais
soltando ais
ao fogo das queimadas de setembro
tenho a carícia das folhas novas
cantando novas
que antecedem as chuvadas
tenho a sede das plantas e dos rios
quando frios
crestam o ramos das mulembas.
...e quando chega o canto das perdizes
e nas anharas revive a terra em cor
sinto em cada flor
nos seus matizes
que és tudo o que a vida me ofereceu.
Costa Andrade
mas sou igual ao silêncio dos muxitos
nas noites de luar e sem trovões.
Tenho o segredo dos capinzais
soltando ais
ao fogo das queimadas de setembro
tenho a carícia das folhas novas
cantando novas
que antecedem as chuvadas
tenho a sede das plantas e dos rios
quando frios
crestam o ramos das mulembas.
...e quando chega o canto das perdizes
e nas anharas revive a terra em cor
sinto em cada flor
nos seus matizes
que és tudo o que a vida me ofereceu.
Costa Andrade
Etiquetas:
África em versos,
Costa Andrade
terça-feira, 16 de março de 2010
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Posso dar-te muito mais
O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.
Lya Luft
Etiquetas:
Dias especiais,
Lya Luft,
Poesia universal
Subscrever:
Mensagens (Atom)