sexta-feira, 31 de outubro de 2008

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Aqui está a minha vida


Aqui está a minha vida - esta areia tão clara
com desenhos de andar dedicados ao vento.
Aqui está minha voz - esta concha vazia,
sombra de som curtindo o seu próprio lamento.
Aqui está minha dor - este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento
Aqui está minha herança - este mar solitário,
que de um lado era amor e, do outro, esquecimento.

Cecília Meireles

As sardas das tuas costas


Ah!
As sardas em tuas costas
minha Constelação de Órion;

- Impossível de contá-las

-E que me guiam
pela vastidão infinita
- do teu universo...

Ana Cristina Souto
Poetisa brasileira

Essência da saudade



Passaste por mim
de madrugada
etérea, levemente
e foste sombra
Assim te perdi
quando entraste
na luz da manhã
Sinal visível
da tua passagem
a rosa vermelha
deixada no chão
do meu peito

Manuel Martins Gaspar Tomé
Poeta Macaense

Mozart

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Luar póstum


Numa noite de lua escreverei palavras,
simples palavras tão certas
que hão de voar para longe, com as asas súbitas,
e pousar nessas torres das mudas vidas inquietas.


O luar que esteve nos meus olhos, uma noite,
nascera de novo no mundo.
Outra vez brilhará, livre de nuvens e telhados
livre de pálpebras, e num país sem muros.


Por esse luar formado em minhas mãos, e eterno,
é doce caminhar, viver o que se vive.
Porque a noite é tão grande... Ah,quem faz tanta noite?
E estar próximo é tão impossível!



Cecília Meireles

Lá no "Água Grande"


Lá no "Água Grande" a caminho da roça
negritas batem que batem co'a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.

Cantam e riem em riso de mofa
histórias contadas, arrastadas pelo vento.

Riem alto de rijo, com a roupa na pedra
e põem de branco a roupa lavada.

As crianças brincam e a água canta.
Brincam na água felizes...
Velam no capim um negrito pequenino.

E os gemidos cantados das negritas lá do rio
ficam mudos lá na hora do regresso...
Jazem quedos no regresso para a roça.

Alda do Espírito Santo

Algo mais

Morrer lentamente...


- Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música
e quem não encontra graça em si mesmo.

- Morre lentamente quem destrói o seu amor próprio,
e quem não se deixa ajudar pelos outros.

- Morre lentamente quem se faz escravo dos seus hábitos,
percorrendo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não se arrisca a vestir uma nova cor
ou a conversar com quem não conhece.

- Morre lentamente quem faz da televisão o seu refúgio.

- Morre lentamente quem não é capaz de apaixonar-se,
quem não põe os pontos nos "is", quem perde o brilho sereno dos olhos
e quem transforma os sorrisos em bocejos.

- Morre lentamente quem não vira a mesa quando se sente infeliz,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho
e quem não foge, pelo menos uma vez na vida, dos conselhos "sensatos".

- Morre lentamente quem passa os dias a queixar-se da sua má sorte
e da chuva que não deixa de cair.

- Morre lentamente quem abandona um projecto antes de o iniciar,
quem não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando o interrogam sobre algo que ele sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples facto de respirar.

Pablo Neruda

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Eis-me


Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face
Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio
Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente.

Sophia de Mello Breyner Andresen

O homem que vinha ao entardecer


Falava com devagar, ajeitando as
palavras. Falava com cuidado,
houvesse lume entre as palavras.
Chegava ao entardecer, os sapatos
cheios de terra vermelha e do perfume
dos matos.
Cumpria rigorosamente os rituais.
Batia primeiro as palmas (junto
ao peito)
Depois falava.
Dos bois, das lavras, das coisas
simples do seu dia-a-dia. E todavia
era tal o mistério das tardes quando
assim falava
que doía.


José Eduardo Agualusa
poeta e escritor angolano

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Silêncio

Quando a manhã vier


Quando a manhã vier
com um sol maduro
ofertando beijos
aos orfãos de ternura.

Quando a manhã vier
em apoteose de luz
e semear no vento
risos de alegria.

Quando a manhã vier
definitivamente
em alvorecer róseo
de paz e tranquilidade,

de mãos nas mãos
saberemos chegado o nosso dia.

Jofre Rocha

Paisagem


(...)

Há uma sombra no céu
e uma névoa nos meus olhos.

As janelas apagam-se em penumbra,
o dongo atravessou a água mansa
e a tua mão aquece a minha mão.

E a tua mão aquece a minha mão.
Crispas os dedos, sentes esta angústia:
a beleza completa-se com dor.

Ao fundo, o mar,o mar
que nos embala e nos conforta,
o mar...
Ó meu amor, e diz,
eu ouço, ele diz,
que a alma não está gasta,
a ânsia não está morta,
se os olhos são capazes de chorar!

Cochard Osório

Solução


Para ver claramente, basta mudar a direcção do olhar.

Antoine Saint-Exupéry

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Encostei-me a ti...

Encostei-me a ti, sabendo que eras somente onda.
Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino, frágil,
Fiquei sem poder chorar quando caí.

Cecília Meireles

Canção desse rumor


Quem - estando ausente - entra no quarto
Quem deita ao lado meu, quem passa
No meu coração seus lábios quentes, quem
Desperta em mim as feras todas
Quem me rasga e cura
Quem me atrai?

Quem murmura na treva e acende estrelas
Quem me leva em marés de sono e riso
Quem invade meu dia após a noite
Quem vem – estando ausente -
E nunca vai?

Lya Luft

terça-feira, 21 de outubro de 2008

PESSOAS E PESSOAS


Há pessoas que surgem na nossa vida
mas não marcam
apenas passam
despercebidamente...
E quando vão embora
não deixam connosco
doces lembranças de outrora.
E há pessoas que marcam a nossa vida
de uma forma tão intensa...sem querer
que não sabemos o porquê
mas elas simplesmente não passam...
Permanecem enraizadas
feitas uma erva daninha
que quanto mais nós tentamos extirpar
mais ela caminha
e vai se aprofundando
sempre...e mais um pouco
no nosso coração penetrando
sem que possamos evitar.
Há pessoas que não saem da nossa vida
e mesmo sem estarem próximas
elas se fazem presentes
e ficam assim... eternamente
sem que exista jamais uma despedida
Porque são pessoas que marcam...
marcam para sempre
a nossa vida!
Para mim essas pessoas são os amigos

Recebida por email

Escuta, meu amigo


A qualquer hora em que chegares,
sentarás comigo à minha mesa.

A qualquer hora em que bateres a minha porta,
o meu coração também se abrirá.

A qualquer hora em que chamares,
eu me apressarei.

A qualquer hora em que vieres,
será o melhor tempo de te receber.

A qualquer hora em que te decidires,
estarei pronto para te seguir.

A qualquer hora em que quiseres beber,
eu irei à fonte.

A qualquer hora em que te alegrares,
eu bendirei ao Senhor.

A qualquer hora em que sorrires,
será mais uma graça que o Senhor me concede.

A qualquer hora em que quiseres partir,
eu irei à frente nos caminhos.

A qualquer hora em que caíres,
eu estenderei os braços.

A qualquer hora, em que te cansares,
eu levarei a cruz.

A qualquer hora em que te sentires triste,
eu permanecerei contigo.

A qualquer hora em que te lembrares de mim,
eu acharei a vida mais bela.

A qualquer hora em que partires,
ficarás com a lembrança de uma flor.

A qualquer hora em que voltares,
renovarás todas minhas alegrias.

A qualquer hora que quiseres uma rosa,
eu te darei toda roseira.

Eu te digo tudo isso, porque não posso imaginar
uma amizade que não seja toda,
de todos os instantes e para todo bem.

Pe. Orlando Gambi

Silêncio


No ponto onde o silêncio e a solidão
Se cruzam com a noite e com o frio,
Esperei como quem espera em vão,
Tão nítido e preciso era o vazio.

Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Reiki

Soneto da hora final


Será assim amiga: um certo dia
Estando nós a contemplar o poente
Sentiremos no rosto, de repente
O beijo leve de uma aragem fria

Tu me olharás silenciosamente
E eu te olharei também, com nostalgia
E partiremos, tontos de poesia
Para as portas da treva aberta em frente.

Ao transpôr as fronteira do segredo
Eu calmo te direi não tenhas medo
E tu tranquila, me dirás:-Sê forte.

E como dois antigos namorados
Nocturnamente tristes e enlaçados
Nós entraremos nos jardins da morte

Vinicius de Moraes

domingo, 19 de outubro de 2008

Escuto


Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou Deus

Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra e fita

Apenas sei que caminho como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco

Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Um dia...


Um dia
ficaremos juntos

Voarei
pelo Universo
ao encontro
das tuas asas acolhedoras.

Nesta ou
noutra vida

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Canção da plenitude


Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
abrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.

Lya Luft

Poetisa brasileira

Hora

Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta --- por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.

Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.

E dormem mil gestos nos meus dedos.

Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.

Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.

E de novo caminho para o mar.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Entendimento

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Imagine



Imagine

Composição: John Lennon


Imagine

Imagine que não existe paraíso

É fácil se você tentar

Nenhum inferno abaixo de nós

E acima apenas o céu

Imagine todas as pessoas

Vivendo para o hoje

Imagine não existir países

Não é difícil de fazê-lo

Nada pelo que lutar ou morrer

E nenhuma religião também

Imagine todas as pessoas

Vivendo a vida em paz

Talvez você diga que eu sou um sonhador

Mas não sou o único

Desejo que um dia você se junte a nós

E o mundo, então, será como um só

Imagine não existir posses

Surpreenderia-me se você conseguisse

Sem necessidades e fome

Uma irmandade humana

Imagine todas as pessoas

Compartilhando o mundo

Talvez você diga que eu sou um sonhador

Mas não sou o único

Desejo que um dia você se junte a nós

E o mundo, então, será como um só

Canção do sonho acabado


Já tive a rosa do amor
- rubra rosa, sem pudor.
Cobicei, cheirei, colhi.
Mas ela despetalou
E outra igual, nunca mais vi.
Já vivi mil aventuras,
Me embriaguei de alegria!
Mas os risos da ventura,
No limiar da loucura,
Se tornaram fantasia...
Já almejei felicidade,
Mãos dadas, fraternidade,
Um ideal sem fronteiras
- utopia! Voou ligeira,
Nas asas da liberdade.
Desejei viver. Demais!
Segurar a juventude,
Prender o tempo na mão,
Plantar o lírio da paz!
Mas nem mesmo isto eu pude:
Tentei, porém nada fiz...
Muito, da vida, eu já quis.
Já quis... mas não quero mais...

Cecília Meireles

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Recordação

M.A.S.

Dá-me a tua mão


Dá-me a tua mão: Vou agora contar-te como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois factos existe um facto, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir-nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.

Clarice Lispector

Marcas...


Há pessoas que nos falam
e não as escutamos;
há pessoas que nos ferem
e não deixam nem cicatriz,
mas há pessoas que simplesmente
aparecem na nossa vida
e nos marcam para sempre.

Cecília Meireles

Poema


O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Escolhas

Poema distante


Ó praia de luz morena
De recorte sensual,
Eu vou soprar minha avena
De inspiração tropical.

Em toda a areia eu descubro,
Nas águas e nos Palmares,
vestígios do sol ao rubro
Disseminados nos ares.

E a minha mágoa, esta pena
Que chora,
Tornou-se então mais morena
Que outrora!

Onda atlântica da praia,
A minha flauta modula
A tua voz desmaia
Como o capim quando ondula...

E eu não sei se a claridade
Que muito ao longe se esgarça,
é nuvem na imensidade
Ou asa de qualquer garça...

E a minha pena, esta mágoa
Flutua
Como flutua na água
A lua.

Lília da Fonseca

Poema de amor



Adoro-te, África semente,
amor profundo,
nobre fruto do meu eu vivente.

Adoro a calidez das tuas tranças,

manta preta do meu primeiro calafrio.

E o dorso largo em que dormi o sono infantil

e acordei já homem feito.

Jorge Macedo

domingo, 12 de outubro de 2008

sábado, 11 de outubro de 2008

Noite de saudade


A Noite vem poisando devagar
Sobre a Terra, que inunda de amargura...
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura...

Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura...
E eu oiço a Noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a noite escura!

Por que és assim tão escura, assim tão triste?!!
É que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma Saudade igual à que eu contenho!

Saudade que eu sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!!

Florbela Espanca

O amor...o amor

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A matemática pode ser poética


Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo octogonal, seios esferóides.

Fez da sua
Uma vida paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.

"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa".

E ao falarem descobriram que eram
Primos entre si.
O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs.

E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.

Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.

E, enfim, resolveram casar-se.
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.

Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissectriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade Integral
E diferencial.

E casaram-se e tiveram uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo,
afinal, se torna monotonia.

Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais
Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo, chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a
Relatividade.
E tudo que era expúrio passou a ser
Moralidade

Como aliás, em qualquer
Sociedade.

Desconheço o autor

Beautiful that way




Smile, without a reason why
Love, as if you were a child
Smile, no matter what they tell you
Don’t listen to a word they say
Cause life is beautiful that way

Tears, a tidal-wave of tears
Light that slowly disappears
Wait, before you close the curtain
There’s still another game to play
And life is beautiful that way

Here, in his eyes forever more
I will always be as close as you remember from before.

Now, that you're out there on your own
Remember, what is real and what we dream is love alone.

Keep the laughter in your eyes
Soon, your long awaited prize
Well forget about our sorrow
And think about a brighter day
Cause life is beautiful that way

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Sonho colorido



…Nuns sonhos vejo-me a andar
pela minha terra vermelha
muitas saudades de a pisar
poder voar como uma abelha!

Como maboques, côcos e pitangas
trepando às arvores como fazia
maçãs-da-india, múcuas e mangas
oh... oh...que bem que me sabia!

O Mar... é quente e azulado
àguas limpidas e transparentes
salto, mergulho, brinco e nado
num vaivém como os párapentes!

Do norte ao sul de Angola
a paisagem é de rara beleza
as matas e rios fazem uma bola
no sonho brinco com a sua levesa!...


Fatyly

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Conhecer e saber

Canção de Outono


Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando
áqueles que não se levantarão...

Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
-a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...

Cecília Meireles

Mundele


Homem de pele branca filho d'Africa
Esqueceram-se de ti.
Não sabem quem és!!
Mas guardo-te na alma.
Tu que nada destróis e até crias dos despojos.
Que respeitas no seio da guerra sangrenta
Que trocas o bem estar pela solidão, pelo abandono.
Que assistes impotente à avidez do saque.
Que pelo amor a Mãe África...
Entregaste-te sem limites, sem reservas.
Nada tens....E és esquecido.!
Sobra-te a sombra da mulemba,
E uma esperança muito ténue
Que se renova em cada pôr -de-sol que assistes.
O grito da kapota na madrugada anuncia-te um dia igual.
Tu mundele que estás longe,
Esperas pelo amanhã que tarda em chegar
Nos anos que passam e na esperança que não morre.
Nas rugas que surgem
Nos cabelos brancos que começam a chegar.
Atravessa o tempo homem branco filho d'Africa,
Mesmo que a travessia seja longa volta para o longínquo deserto.
Tu que escondes a tristeza no teu sorriso,
Que tanto sofres sem se notar.
Tu homem branco!
Tu mundele
Tu também és África

M.Vieira