segunda-feira, 28 de junho de 2010

Não basta a beleza que existe na lua

Tela de René F.G. Magritte

Todos têm os seus momentos de êxtase, o seu secreto sentido da morte, qualquer coisa que lhes serve de apoio. Visitei cada um dos meus amigos, tentando com os dedos inseguros abrir os seus pequenos cofres fechados.
Expuz-lhes a minha dor - não, não a dor, mas o sentimento de incompreensível mistério da vida- e pedi-lhes que a examinassem comigo. Alguns procuram os sacerdotes; outros a poesia.
Eu refugio-me junto dos meus amigos, vou procurar o meu próprio coração, busco qualquer coisa intacta entre frases e fragmentos, eu a quem não basta a beleza que existe na lua e nas árvores e para quem o contacto de uma pessoa com outra é tudo, mas que nem sequer isso consigo estabelecer, permanentemente imperfeito, frágil e indizìvelmente solitário.

Virgínia Woolf

domingo, 27 de junho de 2010

White flag

I know you think that
I shouldn't still love you, or tell you that.
But if I didn't say it, while I'd still have felt it
Where's the sense in that?

I promise I'm not trying to make your life harder
Or return to where we were

But I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be

I know I left too much mess and destruction
to come back again
And I caused nothing but trouble
I understand if you can't talk to me again
And if you live by the rules of "it's over"
then I'm sure that makes sense

But I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be

And when we meet
Which I'm sure we will
All that was then
Will be there still
I'll let it pass
And hold my tongue
And you will think
That I've moved on....



I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be

I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be

I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be

sábado, 26 de junho de 2010

o sonho dorme agora aqui comigo...


Tela de Andrew Wyeth

O sonho aprendeu a pairar bem alto,
lá onde o sobressalto nem sequer nasceu.
Namorou a trôpega ilusão,
até que trôpego e desajeitado,
desprendeu-se de seu reino idealizado,
veio pousar tamborilante em minha mão.
Assim, aquecido e aconchegado,
parece que se esqueceu de ir embora.
Na hora em que ressona distraído,
eu lhe pingo malemolências ao ouvido,
à sua inquietação eu me sujeito.
Eis que o sonho dorme agora aqui comigo,
seu corpo repousa no meu peito.

Flora Figueiredo

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Alma serena

Alma serena, a consciência pura,
assim eu quero a vida que me resta.
Saudade não é dor nem amargura,
dilui-se ao longe a derradeira festa.

Não me tentam as rotas da aventura,
agora sei que a minha estrada é esta:
difícil de subir, áspera e dura,
mas branca a urze, de oiro puro a giesta.

Assim meu canto fácil de entender,
como chuva a cair, planta a nascer,
como raiz na terra, água corrente.

Tão fácil o difícil verso obscuro!
Eu não canto, porém, atrás dum muro,
eu canto ao sol e para toda a gente.

Fernanda de Castro

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Das cantigas e das palavras



Tuas palavras antigas
Deixei-as todas, deixeia-as,
Junto com as minhas cantigas,
Desenhadas nas areias.

Tantos sóis e tantas luas
Brilharam sobre essas linhas,
Das cantigas — que eram tuas —
Das palavras — que eram minhas!

O mar, de língua sonora,
Sabe o presente e o passado.
Canta o que é meu, vai-se embora:
Que o resto é pouco e apagado.

Cecília Meireles

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Quero acabar entre rosas

Quero acabar entre rosas, porque as amei na infância.
Os crisântemos de depois, desfolhei-os a frio.
Falem pouco, devagar.
Que eu não oiça, sobretudo com o pensamento.
O que quis? Tenho as mãos vazias,
Crispadas febrilmente sobre a colcha longínqua.
O que pensei? Tenho a boca seca, abstracta.
O que vivi? Era tão bom dormir!

Álvaro de Campos

terça-feira, 22 de junho de 2010

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Lua adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles

domingo, 20 de junho de 2010

sábado, 19 de junho de 2010

O que é o espaço?



O que é o espaço
senão o intervalo
por onde
o pensamento desliza
imaginando imagens?

O biombo ritual da invenção
oculta o espaço intermédio
o interstício
onde a percepção se refracta

Pelas imagens
entramos em diálogo
com o indizível


Ana Hatherly

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Ciclo um

Tela de Leonid Afremov

No final do dia
retorna

(quando a chuva permite
o passo rápido)

a casa espera
a sua chegada

humilde quem chega
humilde quem espera

o dia finda no retorno
da configuração do ciclo
na certeza da repetição
do próximo dia.

Pedro Du Bois

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Visto de baixo...

Visto de baixo, o arvoredo
é renda verde de luar,
desmanchada ao vento crespo
que à noite regressa ao mar.

Vão passando os varredores;
vão passando e vão varrendo
a terra, a lembrança, o tempo.

E, de momento em momento,
varrem seu próprio passar...


Cecília Meireles,

sexta-feira, 4 de junho de 2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

Arte de Amar


Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.


Manuel Bandeira