terça-feira, 8 de setembro de 2009

...meu eterno desconhecido

Desenho de Paula Or

Podes dizer ao mundo inteiro
que estas letras são tuas.
assim como os desenhos que fiz,
os espaços que deixei.
Podes dizer a toda a gente que um dia
te amei e que foste tu quem me fez poeta.
Podes nadar em orgulho ao saber
que todos os copos que bebi foram por ti.
Que os cigarros que fumei ansiosa e
apressadamente foram pela saudade
do teu corpo.

Quando falarem de raios e relâmpagos,
de trovões e de tufões, vais poder
dizer que fui eu quem fez a China,
quem ergueu muralhas e deitou as
lágrimas de sangue.
Quando te perguntarem se um dia me
conheceste, diz que sim.

Responde um afirmativo de poder e de vontade.
Podes deixar o medo do conhe-
cimento alheio, agora que te sou realmente alheia.
Quando um dia o mundo se
desfizer verdadeiramente em estações trocadas
o Verão pelo Outono ou o Inverno pela
Primavera - aí podes descansar.
Podes contar à galáxia e aos seus
sobreviventes que, meu eterno desconhecido,
um dia me fizeste rainha.
...

José Eduardo Agualusa

2 comentários:

Anónimo disse...

É lindo este poema.

Amigo.

Iguana africana disse...

Concordo plenamente contigo.
Obrigada pela visita e pelo comentário.

Iguana Africana