quinta-feira, 9 de julho de 2009

Gajaja



Fruto pálido, empaludado…
Cereja dos trópicos
de cor desmaiada.

Luanda:
onde estão as tuas gajajeiras
que a troco dos seus frutos
pedradas eu lançava
pedradas que magoavam
pedradas de criança!

Por certo que foram destroçadas,
sepultadas em teus alicerces
da Brito Godins
e de todas as Ingombotas,
tal como os frondosos cajueiros.

Vi hoje uma gajajeira
já quase morta.
Havia pedras a seu lado,
areia e cimento
e um buraco longo, rodopiando,
fazendo quadrados,
rectângulos, quadrados…

Se a minha fortuna
não fosse feita de sonhos,
compraria aquele terreno.
A copa da gajajeira
seria o meu chapéu,
a umbela dos dias quentes
e das noites de luar e de cacimbo.

Luanda:
onde é que estão
as nossas gajajeiras?
Essas gajajeiras que me davam
as gajajas da minha infância
os frutos da minha vadiagem!
Eu atirei pedradas!

Mas tu, Luanda,
o que fizeste delas?

Tomás Jorge publicado
(poeta angolano)

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