No espelho não é eu, sou mim. Não conheço mim, mas sei quem é eu, sei sim. Eu é cara-metade, mim sou inteira. Quando mim nasceu, eu chorou, chorou. Eu e mim se dividem numa só certeza. Alguém dentro de mim é mais eu do que eu mesma. Eu amo mim. Mim ama eu.By Rita Lee
terça-feira, 31 de março de 2009
segunda-feira, 30 de março de 2009
Sacode as nuvens
Sacode as aves que te levam o olhar.
Sacode os sonhos mais pesados do que as pedras.
Porque eu cheguei e é tempo de me veres,
Mesmo que os meus gestos te trespassem
De solidão e tu caias em poeira,
Mesmo que a minha voz queime o ar que respiras
E os teus olhos nunca mais possam olhar.
Sophia de Mello Breyner
domingo, 29 de março de 2009
Canção com parêntesis
Ficou surpreso
A boca se fechou, a música
Descaiu num tom menor
Meu corpo que retornava
Ao que nunca tinha sido
(senão em nostalgia)
retoma o que sempre fingiu ser.
Ficámos á espera, minha vida e eu
(sem amargura mas desconcertadas)
de que apagues os parêntesis
e voltes, e te permitas
as ternuras, o encanto, as surpresas
que iluminava( como os meus)
teus próprios dias
Lya Luft
sábado, 28 de março de 2009
sexta-feira, 27 de março de 2009
O lado bom
um pouco de paisagem,
uma janela aberta,
uma montanha ao longe,
um aceno de mar.
Quando precisares de sonho,
de um canto de beleza,
de um pouco de silêncio,
ou simplesmente
de sol... e de ar...
Quero ser o lado bom
em que pensas,
isto que intimamente
a gente deseja
mas nem sempre diz
- quero ser, naquela hora,
o que sentes falta
para seres feliz...
Que quando pensares
em fugir de todos
ou de ti mesmo, enfim,
penses em mim...
Millôr Fernandes
quinta-feira, 26 de março de 2009
Oração
dá-nos o prometido no princípio
quanto os homens errantes no deserto
receberam de ti a obrigação;
dá-nos a terra fértil dos eleitos;
a pátria para o povo de escolhidos
que ainda não tem pão.
É a hora,
Senhor!
É a hora da estrela refulgir
guiando os passos do teu povo esparso
nas trevas desta noite de ganância
e dor
e confusão.
É a hora,
Senhor!
Dá-nos o prometido no princípio:
a terra da promissão.
Cochat Osório
Olhando o mar
tenho a ilusão de achar-me diante
de um silêncio amplo, ondulante,
de um silêncio profundo,
onde vozes lutassem por gritar,
por lhe fugirem do invisível fundo.
Diante do mar eu fico triste,
nessa mudez de quem assiste
reproduções do próprio dissabor;
diante do mar eu sou um mar,
a outro de apor
e a se indeterminar.
O mar é sempre monotonia,
na calmaria
ou na tempestade.
Fujo de ti, ó mar que estrondas!
porque a tristeza que me invade
tem a continuidade
das tuas ondas...
Mas te amo, ó mar, porque minha alma e a tua
são bem iguais: ambas profundamente
sensíveis, e amplas, e espelhantes;
nelas o ambiente
actua
apenas superficialmente...
Calma de cismas, de êxtases, de sonhos,
desesperos medonhos,
ânsias de azul, de alturas...
- Longos ou rápidos instantes
em que me transfiguro, em que te transfiguras...
Nos nossos sentimentos sem represa,
nas nossas almas, quanta afinidade!
- Tu sentindo por toda a natureza!
- Eu sentindo por toda a humanidade!
Nos dias muito azuis, o meu olhar,
atento,
a descer e a se elevar,
supõe o mar um espreguiçamento
do céu e o céu um êxtase do mar.
Há nos ritmos da água
marinha uma poesia, a mais completa,
essa poesia universal da mágoa.
O mar é um cérebro em laboração,
um cérebro de poeta;
nas suas ondas, vêm e vão
pensamentos, de roldão.
O mar,
imperturbavelmente, a rolar, a rolar...
O mar... - Concluo sempre que metido
em sua profundeza e em sua vastidão:
- o mar é o corpo, é a objectivação
do espaço, do infinito.
Gilka Machado
quarta-feira, 25 de março de 2009
terça-feira, 24 de março de 2009
...flor e perfume
Naquele tempo
Sob o caramanchão de glicínia lilás
As abelhas e eu
tontas de perfume
lá no alto as abelhas
doiradas e pequenas
não se ocupavam de mim
Iam de flor em flor
e cá em baixo eu
sentada no banco de azulejos
entre a penumbra e a luz
flor e perfume
Tão ávida como as abelhas.
Sophia de Mello Breyner Andresen
segunda-feira, 23 de março de 2009
...da Sophia
por nós perdido possa regressar
oferecendo a flor
que adiámos colher.
Cada dia te é dado uma só vez
e no redondo círculo da noite.
não existe piedade
para aquele que hesita.
Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
longo indelével rasto
que o não vivido deixa.
Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
vai sempre mais à frente
do que o teu próprio passo.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Primavera
É assim como um jardim sem flor
Só queria poder ir dizer a ela
Como é triste se sentir saudade
É que eu gosto tanto dela
Que é capaz dela gostar de mim
E acontece que eu estou mais longe dela
Que da estrela a reluzir na tarde
Estrela, eu lhe diria
Desce à terra, o amor existe
E a poesia só espera ver
Nascer a primavera
Para não morrer
Não há amor sozinho
É juntinho que ele fica bom
Eu queria dar-lhe todo o meu carinho
Eu queria ter felicidade
É que o meu amor é tanto
Um encanto que não tem mais fim
E no entanto ele nem sabe que isso existe
É tão triste se sentir saudade
Amor, eu lhe direi
Amor que eu tanto procurei
Ah, quem me dera eu pudesse ser
A tua primavera
E depois morrer
Vinicius de Moraes
domingo, 22 de março de 2009
sábado, 21 de março de 2009
Dia da poesia
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta - por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.
Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.
E dormem mil gestos nos meus dedos.
Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.
Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.
E de novo caminho para o mar.
Sophia de Mello Breyner Andresen
sexta-feira, 20 de março de 2009
Biofagia
Chegou a Primavera
Que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
A selvagem exalação das ondas
Subindo para os astros como um grito puro.
Sophia de Mello Breyner Andresen
quinta-feira, 19 de março de 2009
quarta-feira, 18 de março de 2009
As flores da franjipani
Hoje senti saudades do cheiro das flores da franjipani; sempre me acompanharam desde criança até ao dia do casamento,e mais tarde,já mãe,em brincadeiras com os meus filhos.
Como era bom, a disputa entre as amigas, para ver quem conseguia fazer a grinalda mais bonita para enfeitar a cabecita ainda cheia de sonhos inocentes. Era adorno de pouca dura, pois logo a seguir eram as pétalas com o doce cheiro a côco, desfolhadas pela corrente das águas do rio Zaire onde eu nadava,não me apercebendo o quão era feliz.
Doces recordações, que têm o mesmo cheiro e sabor das flores da franjipani.
Nova canção da vida
é ter uma cubata, mesmo ali
dentro do mato, longe da cidade,
mas sempre, meu amor, ao pé de ti.
O culto da cidade em desprezo do mato!
Eu não conheço nenhum mal maior.
O meu ideal é este, e nele me retrato:
– o mato, uma cabana, o nosso amor...
Ter um jardim cercando o nosso lar
(é lar uma cubata se Deus quer
que nela, sempre, o homem e a mulher,
em sonho e obra, sejam par e par);
ter lavras de feijão e de batatas,
de milho, de ginguba e de mandioca,
para nós dois e para quanta boca
de fome houvesse ali pelas libatas;
gozar o bucolismo das paisagens
(aqui, uma palmeira; além, uma mulemba...);
e admirar a loucura infantil dos selvagens
no prazer da rebita e da massemba;
ter mesmo ao pé da casa uma mangueira,
que desse sombra e fruto ao cansado viajor;
de dia, trabalhar em lida meeira;
à noite, adormecer na benção do Senhor...
– Vamos viver assim a vida inteira,
vamos viver assim, ó meu amor!
Geraldo Bessa Victor
terça-feira, 17 de março de 2009
Idades
segunda-feira, 16 de março de 2009
Bien pensé
domingo, 15 de março de 2009
20 Anos-Palabras
sábado, 14 de março de 2009
Eterno
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Cecília Meireles
sexta-feira, 13 de março de 2009
Liberdade
Liberdade
Essa palavra que o sonho humano alimenta,
que não há ninguém que explique,
mas ninguém que não entenda.
Clarice Lispector
África minha cantora
Não vês a cor do luar?
Não vês a cor do Sertão?
Não vês a erma magia
Romântica Tentação
Desta Angola que nos criou
E nos toca o coração?
Repara a ganga infiltrando
Em selvagem natureza
O feiticeiro espeldor;
Ouve o cantar das viuvinhas,
Dos chacais ouve os latidos;
Vê o clarão das queimadas
E o romper das madrugadas
Em quadros belos...perdidos...
Guitarra, que estás tocando
Nesta noite de luar?
Não vês para além das chamas
As mucaias a gingar?
Olha as sombras africanas
Bricando sob o palmar...
Ouve o rugir do leão
Ouve o chorar duma hiena
E verás quão bem pequena
É tua voz no Sertão!
E quando vires o manto
Do grande Zaire entre as relvas...
Pára guitarra teu canto
E deixa cantar as Selvas
Eduardo Brazão-Filho
quinta-feira, 12 de março de 2009
quarta-feira, 11 de março de 2009
Vida I
terça-feira, 10 de março de 2009
Quando eu morrer
não me dêem rosas
mas ventos.
Quero as ânsias do mar
quero beber a espuma branca
duma onda a quebrar
e vogar.
Ah, a rosa dos ventos
a correrem na ponta dos meus dedos
a correrem, a correrem sem parar.
Onda sobre onda infinita como o mar
como o mar inquieto
num jeito
de nunca mais parar.
Por isso eu quero o mar.
Morrer, ficar quieto,
não.
Oh, sentir sempre no peito
o tumulto do mundo
da vida e de mim.
E eu e o mundo.
E a vida. Oh mar,
o meu coração
fica para ti.
Para ter a ilusão
de nunca mais parar.
Alexandre Daskalos
segunda-feira, 9 de março de 2009
domingo, 8 de março de 2009
sábado, 7 de março de 2009
Apelo
(e eu vejo-a!)
há campos verdes de esperança,
abandonadas ao calor de um sol eterno...
Na outra margem do rio,
onde não chega o inverno,
há campos ondulantes de searas maduras,
para os pobres matarem nelas
todas as fomes do mundo...
Na outra margem,
tudo se começa de novo
e não há dias passados
que amargurem os desgraçados...
Não há dinheiro,
e os homens dão-se as mãos
que pelo dia inteiro
ouvi as canções que os seus lábios entoaram...
………
E entre mim, e a outra margem,
esta terrível viagem.
Este rio caudaloso, imundo,
sujo de todos os calhaus,
que nele vomitou o mundo...
Entre mim e a outra margem,
o rio...
Ah! barqueiro
porque tardas?...
Não vês como faz frio?
Espero mas desfaleço...
Não tardes mais barqueiro
não tardes!...
Que é tão longe ainda
a outra margem do rio...
Alda Lara
sexta-feira, 6 de março de 2009
Névoas
vazios de sons.
Sobre estas calçadas
frias de granito
não há nada que seja
tempo
som
vento
cheiro bom.
Tudo flui! Tudo é nada!
Só a voz longe-longe das quitandeiras
do Lobito
ressoam no vento-pregão
percorrendo Caponte e Compao:
-Xi ferreraaa, mariquitaaa...
enchendo o ar da saudade
de tempo-peixe
de tempo-cheiro
condensado em novelos de cacimbo,
névoa, nada e mais nada.
Namibiano Ferreira
quinta-feira, 5 de março de 2009
Caminho nocturno
a chuva, o cantar do vento;
E da minha escura cela
Olho a molhada viela
caída no esquecimento.
Viela, pedras brilhantes
abandonadas no chão;
Pedras húmidas, cortante.
Pedras negras, suplicantes,
que esperam seu perdão.
E a chuva e o vento,
ouço através da janela;
Olho ainda sonolento
caída no esquecimento
a minha pobre viela.
Nostálgico, fico olhando
as pedras do meu caminho;
fico vendo-as suplicando
e entre si murmurando,
e ouço-as chorar baixinho.
quarta-feira, 4 de março de 2009
Poemas que eu escrevi na areia
Meu bergantim, onde vens,
que te não posso avistar?
Bergantim! Meu bergantim!
Quero partir, rumo ao mar...
Tenho pressa! Tenho pressa!
Já vejo abutres voando
além, por cima de mim...
Tenho medo... Tenho medo
de não me chegar ao fim.
Meus braços estão torcidos.
Minha boca foi rasgada.
Mas os olhos, estão bem vivos,
e esperam, presos ao Céu...
Que haverá p'ra além da noite?
p'ra além da noite de breu?
Ah! Bergantim, como tardas...
Não vês meu corpo jazendo
na praia, do mar esquecido?...
Esse mar que eu quis viver,
e sacudir e beijar,
sem ondas mansas, cobrindo-o...
Quem dera viesses já...
que vai ficando bem tarde!
E eu não me quero acabar,
sem ver o que há para além
deste grande, imenso céu
e desta noite de breu...
Não quero morrer serena
em cada hora que passa
sem conseguir avistar-te...
Com meu olhar enxergando
apenas a noite escura,
e as aves negras, voando...
II
Meu bergantim foi-se ao mar...
Foi-se ao mar e não voltou,
que numa praia distante,
meu bergantim se afundou...
Meu bergantim foi-se ao mar!
levava beijos nas velas,
e nas arcas, ilusões,
que só a mim me ofereci...
Levava à popa, esculpido,
o perfil, leve e discreto,
daqueles que um dia perdi.
Levava mastros pintados,
bandeiras de todo o mundo,
e soldadinhos de chumbo
na coberta, perfilados.
Foi-se ao mar meu bergantim,
Foi-se ao mar... nunca voltou!
.........................
E por sete luas cheias
No areal se chorou...
Alda Lara
terça-feira, 3 de março de 2009
A lover is forever
The reason you won't stay with me
You think a ring upon your hand
Will solve your insecurity
So go ahead and play your games
If that's what you must do
Nothing here remains the same
But the way I feel for you
I can watch you walk away
And I know that I'll get by
And I know just what to say
But honey I can't tell a lie
So figure out what you must do
I know you think you're so damn clever
You can marry any time you want
But a lover is forever
I can watch you walk away
And I know that I'll get by
And I know just what to say
But honey I can't tell a lie
Figure out what you must do
I know you think you're so damn clever
You can marry any time you want
But a lover is forever
You can marry any time you want
But a lover is forever