quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Posso dar-te muito mais




O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.


Lya Luft


sábado, 20 de fevereiro de 2010

Dá-me a tua mão


Dá-me a tua mão:
Agora vou contar-te como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha subreptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois factos existe um facto, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.

Clarice Lispector

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Qualquer tempo


Qualquer tempo é tempo.
A hora mesma da morte
é hora de nascer.

Nenhum tempo é tempo
bastante para a ciência
de ver, rever.

Tempo, contratempo
anulam-se, mas o sonho
resta, de viver.


Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Aquilo em que acreditas



A esperança é uma afirmação dos teus desejos mais elevados. É o anúncio dos teus sonhos mais ambiciosos. A esperança é pensamento feito Deus.

A esperança é o portal da crença, o portal do conhecimento. O conhecimento é o portal da criação, e a criação o portal da experiência.
A experiência é o portal da expressão, a expressão é o portal do dever, o dever é a actividade da vida, toda, e toda a Vida é a função única de Deus.
Aquilo que esperas é aquilo em que acabarás por acreditar. Aquilo em que acreditas é aquilo que acabarás por saber, o que criarás, o que acabarás por viver. O que viverás será o que acabarás por expressar, e o que afinal te tornarás.
É esta a fórmula de toda a vida.
É tão simples como isso.

Neale Donald Walsch
Conversas com Deus

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Terra molhada



Não vou negar a saudade
De tantos cheiros impregnada;
Mas daqueles que me lembro
Há um, deixa-me assim arrasada...

Terra molhada, cheirosa
Que não mais vou esquecer...
Dos quentes verões chuvosos
Não se cansa de beber...

Por momentos, por instantes,
Quem me dera tal sentir,
Dar de beber à minha alma
Sequiosa de partir...

Ana Bela

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Conversas com Deus


Pintura de Gustav Klimt

"Não acredites numa única das minhas palavras.
Ouve o que digo, e depois acredita no que o teu coração te disser ser verdadeiro. É no teu coração que se encontra a sabedoria, e é também no teu coração que se encontra a verdade, e é ainda no teu coração que se encontra Deus na mais íntima comunicação contigo.

Mesmo assim, é possível que me feches o teu coração, como tantos. Muitos fecharam-me igualmente as suas mentes.
E por favor não digas a ninguém que, se não acreditar no que vai na tua mente, acabarei por condená-lo.
Finalmente, faças o que fizeres, não os condenes tu próprio em meu nome."

Neale Donal Walsch

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

basta um pequeno gesto...

Tela de Leonid Afremov


Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

Cecília Meireles

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Com alma



Como um pão aberto
assim te ofereço
este rio em prata
sorrindo

para que te embebedes
da certeza de que
os caminhos se fazem,

como este barco
perseguido por pássaros
enfeitiçados
de todas as latitudes

salpicam da espuma
as luzes da cidade
mostrando-me como
se rompem os contornos.

Ana de Santana
(poetisa angolana)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Para pensar


" O passado e o futuro não dependem do momento em que estamos;
dependem do que escolhemos fazer. "

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Lembranças



Queria morrer
Em seus braços
Com o seu suor escorrendo
Pelo meu corpo...

Queria morrer
Ao seu lado
Com a sua vida animando
Os meus últimos suspiros...

Queria morrer
Amando
Pois assim não viveria
À espera da sua volta,
Sonhando com com o seu amor!

Queria morrer
Com a lembrança
Para não buscá-lo jamais!

Queria morrer
Enrodilhada
Em suas pernas,
Em seus braços,
E então não sofreria mais
Essa falta
Que você me faz.

Queria morrer
Feliz
E abandonar essa vida vazia...

Queria morrer
Assim
Já que não posso viver
Com você!

Amélia Rodrigues

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Enlevo



Eu olho você grande e distante
e da sua grandeza me comovo
e da sua distância me revolto.
Olho de novo.
Procuro reter em minhas mãos sua figura
mas ela gesticula, oscila e cresce
e numa inconstância distraída
no instante exacto
por trás da vida desaparece.
Um desacato.
Do meu desaponto eu me levanto
pra levar embora outro desencanto
mas você me divisa e então me chama.
Me aguarda, reclama e me convida
e minha vida nessa ansiedade por fim entrego.
E nesse amor feito de espuma colorida
nós flutuamos: você borbulha, eu escorrego,
ensaboados, você explode, eu me desintegro.

Flora Figueiredo

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Pensamentos

Tela de Sandra Bierman

Ser profundamente amado por alguém dá-nos força;
amar alguém profundamente dá-nos coragem.

Lao-Tsé

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Desejo

Tela de Margarita Sikorskaia


Aterra-me nos lábios
Com teus beijos
E deixa-me voar nas asas do sonho
Iludido ainda por viver…

Navega-me
O corpo impuro
Do meu casco imaturando,
Com as ondas crespas e revoltas
Do teu negro e revolto cabelo.

Viaja por mim
Teu corpo em carícias
De voltas ao Mundo:
Sejam abraços tão fundos
Sem nunca lhes medir o fim!

António Cardoso



segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Falsas esperanças



(...)

sempre haverá a música das águas
enganosas em sereias e serpentes
porque delas somos feitos
em cada instante de medo
e de felicidade

da falsa impressão de liberdade
não carregamos a carga
que na viagem longa
não se deve sobrecarregar o corpo
e nos desvãos do antes
ficam as falsas esperanças

Pedro Du Bois